terça-feira, 3 de março de 2009

Para Continuar Acreditando na Saude do Brasil

JOSÉ GERALDO COUTO -Cansei de futebol
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O FUTEBOL brasileiro anda chato demais. Muita gente já falou sobre isso. Não é a primeira vez que o desgosto se abate sobre os aficionados, mas o mais preocupante é que desta vez não parece tratar-se de uma entressafra ou fase passageira, mas de uma tendência que veio para ficar.Num contexto em que os craques vão embora cada vez mais jovens, empobrecendo tecnicamente os times e deixando-os à mercê das táticas cinzentas e pragmáticas, é difícil vislumbrar uma luz no fim do túnel. Acompanhar os campeonatos, o dia-a-dia dos clubes, as atribulações da seleção, tudo isso virou uma atividade penosa, desagradável. A famosa crítica norte-americana Pauline Kael contava uma historinha pessoal para ilustrar a queda de qualidade do cinema em geral. No começo da sua carreira, nos anos 50, as pessoas lhe perguntavam: "Puxa, você pode ver todos esses filmes de graça?" Quatro décadas depois, a pergunta tinha mudado: "Puxa, você tem mesmo que ver todos esses filmes?" O mesmo vale hoje para os comentaristas de futebol. Sempre que, por um motivo ou por outro, o futebol me enjoa ou enoja, eu me lembro de uma crônica de Paulo Mendes Campos, escrita nos anos 60 e incluída no livro "A Palavra É Futebol" (editora Scipione). Chama-se "Descanso de Futebol" e descreve à perfeição o sentimento do torcedor melancólico. Ele diz: "Retirei-me [do futebol], insisto, para preservar meu patrimônio de memórias, sem o desgaste da ansiedade de quem continua, em idade canônica, a esperar nas arquibancadas um milagre maior". Analogamente, José Paulo Paes (1926-98), grande poeta e tradutor, mas sobretudo grande homem, dizia, já no fim da vida, que não lia mais jornal nem via TV para não se aborrecer. "Por que é que eu vou ler sobre a Guerra do Golfo? Guerra por guerra, prefiro ler a "Ilíada'", dizia. Claro que ninguém pode viver no passado, nem apagar as guerras e as desgraças (entre elas o futebol ruim) simplesmente desligando a TV. A gente faz isso momentaneamente, para preservar a saúde, se reciclar e voltar revigorado para a lida da vida. A aqueles que hoje, nesta aridez de sete desertos, sentem vacilar o amor pelo futebol, recomendo, além dos eficazes remédios de sempre (uma pelada entre amigos; DVDs sobre Pelé, Maradona e outros gênios; crônicas de Nelson Rodrigues; filmes de Ugo Giorgetti), um biotônico que acaba de sair: o livro "A Dança dos Deuses - Futebol, Sociedade, Cultura" (Companhia das Letras), do historiador Hilário Franco Júnior. É o mais completo estudo que conheço sobre o futebol como fenômeno cultural. Além de situar historicamente o futebol no mundo moderno, o livro, bem escrito, nos mostra todos os significados que esse esporte ao mesmo tempo bruto e refinado tem para as nossas vidas, como indivíduos ou como coletividade. E pronto: sem perceber, nos reconciliamos com o bendito jogo da bola.

2 comentários:

Anônimo disse...

Blater,andei sumido. meu computador deu pau,a internete não quis entrar no ar e lá se foi a comunicação. Sobre o futebol, naõ entendo nada. Só sei fazer gols. O futebol não é para se entender, é pra se jogar. Feliz aqueles que vão às peladas,chutar a bola e os problamas.

jose disse...

Funciona assim mesmo.Eu não entendo nada de literatura,mas fico feliz quando leio um texto do Tostão.