sábado, 28 de fevereiro de 2009

Capitulo 9

E o primeiro passo para ser um heroi seria reconhecer que entre a burrice e a canalhice não passa o fio de uma navalha e que o maior segredo de todo homem é a burrice.Sendo assim os herois reais eram os politicos:atores de um Big Brother cotidiano a velar e revelar nossa essencia ridiculamente canalha.Daí em algum tropeço a humanidade dele iria para frente.

O Escritor

Para entender os derivativos que geraram A Crise

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Urgencia 3

São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
CLÓVIS ROSSI- Maçanetas e dignidade
SÃO PAULO - Volto a uma história contada pelo velho sábio que habitava esta Folha. Uma vez, ele perguntou a um governador biônico, seu amigo, porque gostava tanto de ser governador. Resposta: "Ah, meu caro, você não sabe como é bom passar quatro anos sem precisar nem sequer pôr a mão na maçaneta da porta" (não havia reeleição naquela época; imagine a delícia agora que o cidadão passa oito anos tendo sempre um "aspone" para cuidar da delicada tarefa de abrir portas). Na verdade, não são apenas governadores (ou prefeitos ou presidentes) que gozam das benesses de ter casa, comida e roupa lavada enquanto exercem o cargo. Deputados e senadores também, embora em menor escala. É natural, por isso, que políticos em geral tenham uma ideia apenas virtual de como é abrir uma porta, para não mencionar verdadeiras dificuldades. Essa distância só é quebrada, infelizmente, em caso de tragédia, como a que acaba de ocorrer com David Cameron, líder do Partido Conservador britânico, que, se a eleição fosse hoje, seria o substituto de Gordon Brown como primeiro-ministro, dizem as pesquisas. Cameron perdeu o filho Ivan, de seis anos, vítima de um tipo raro de epilepsia. Humanizou-se em consequência, tanto no trato que lhe dedicou a mídia local como o mundo político. A questão é saber se a humanização irá adiante ou, como escreve o jornal "The Times", se "seu partido, informado pela experiência do que é depender tão pesadamente do Serviço Nacional de Saúde [público], mudará a Grã-Bretanha?". Posto de outra forma: os políticos, de direita ou de esquerda, entenderão que a grande maioria da população, no Reino Unido como no Brasil, é obrigada a pôr a mão na maçaneta da saúde pública e que, por isso, ela deveria abrir a porta para a dignidade?

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Ode ao Rato

Telio Navega - http://oglobo.globo.com/blogs/Gibizada
9/2/2009-
22:46
Dr. Mouse
Hugh Laurie que se cuide. Vem aí o Dr. Mouse.
Saiu este mês, na Itália, a minissérie "Dr. Mouse", com o Mickey dando uma de médico especializado em diagnósticos difíceis, assim como o protagonista da série campeã de audiência "House". Ao seu lado, como assistentes, estão Pateta (Dr. Foreman?), Horácio e Clarabela. Minnie, pelo visto na imagem acima, posará de Dra. Cuddy, não?
Será que o camundongo da Disney será tão arrogante quanto o da série exibida no Brasil pelo Universal Channel? A HQ tem quatro partes e a Abril Jovem promete publicá-la no Brasil no segundo semestre.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Visões da Crise

1)NIVALDO CORDEIRO: um espectador engajado







A QUESTÃO CENTRAL DA CRISE
03 de dezembro de 2008

Qual é a questão central da crise econômica mundial? Não é nem a sua origem, indiscutivelmente derivada da desastrada atuação do Estado, que exorbitou no que pôde: na regulação, na emissão de moeda, nos gastos públicos e na determinação imperativa de empréstimos para pagadores duvidosos, gerando a bolha imobiliária. Dizer que a crise nasceu do mercado e das regras de movimento da sociedade capitalista é menos que burrice, é má fé.

Nem também é discutível a sua dimensão, já de proporções mundiais e profundas. Não se pode ser leviano diante da gravidade do momento. Essa crise já é a mais séria desde 1929 e deixará seqüelas por muitos anos.

Também é indiscutível que a saída da crise envolve a atuação do Estado, seja porque este tem o monopólio da emissão de moeda, pois se trata, antes de tudo, de uma crise de crédito, seja porque reformar o Estado se tornou tarefa de urgência. Sem a emissão monopolista não há como ser restabelecido o volume de crédito necessário para a superação da crise. Da mesma forma, é imperativo discutir a atuação e o tamanho do Estado. Se essa crise trouxe algo de bom é colocar essa questão para reflexão, mesmo que a maior parte dos economistas, os que supostamente têm os instrumentos para a superação da crise, partam do suposto de que o Estado deve aumentar.

A questão técnica não pode subordinar a questão ética.

Se admitimos que o tamanho e a exorbitância Estado estejam na raiz do problema, segue-se logicamente que seu crescimento não pode ser a solução, mas sim, o agravamento das coisas. O problema é que o debate na grande imprensa e mesmo na academia parte de supostos falsos, que levam a soluções falsas. É preciso restabelecer o primado da lógica e do princípio de realidade para nortearem a discussão.

Quero aqui focar na questão do crédito. Em tese, para que o crédito seja restabelecido nem o Estado precisa crescer além do tamanho que já tem e nem é necessário quebrar as regras morais da sociedade capitalista. Economistas como Krugman recomendam não deixar que as grandes corporações problemáticas vão à bancarrota, como a GM e o Citibank, beneficiárias do “boom” econômico artificial, bem como lamentam que o banco Lemann Brothers tenha sido liquidado. O equívoco econômico aqui se soma ao equívoco moral.

Essas grandes corporações tomaram decisões erradas, incharam custos, pagaram rendimento a acionistas, diretores e gerentes desproporcionais aos resultados obtidos. Então sancionar essas decisões com créditos abundantes e baratos, ou subscrição de capital, mesmo que condicionado a mudanças nas suas práticas corporativas, será um ato de profunda imoralidade. É dar dinheiro para maus gestores, que poderia ser utilizado ou para sanear o Estado ou para apoiar empresas sólidas e sérias.

Aqui o ato econômico são é também o ato revestido de plena moralidade. Ou deveria ser.

Para mim é essa a questão central, que deveria ser o dilema de consciência da equipe econômica de Barack Obama. Executar os atos morais é o caminho mais curto para a saída da crise. Praticar imoralidades é prolongar a crise até o limite do insuportável. Veremos nos próximos meses essa dança em torno da moralidade e o que dela emergir tornará o presidente eleito ou um estadista ou um vilão aos olhos da história.
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2)Caos e barbárie na banca americana
O governo Barack Obama começou a fazer mágicas e milagres a fim de evitar que, formalmente, venha a ficar com a maioria absoluta das ações do Citibank. Na verdade, se espera para ver qual será o truque do governo para não ficar com o Citi ou para fingir que não ficou.
Discutem-se coisas como converter o dinheiro que o governo colocou no Citi em ações ordinárias a preços camaradas. Isto é, o governo pagaria mais do que o preço atual e irrisório de mercado a fim de não ficar com ações demais. Mas alguém do público americano deverá notar que, deste modo, o governo Obama vai doar dinheiro do contribuinte para o Citi, seus acionistas e credores.
Na quarta-feira começam os “testes de estresse” aos quais o governo vai submeter as instituições financeiras. Em tese, vão checar se os bancos são capazes de resistir a novas rodadas de apodrecimento da economia e dos seus ativos. Caso não sejam capazes, as instituições “terão a oportunidade de, primeiro, procurarem fontes privadas de capital. Caso não consigam, o capital tampão provisório será colocado à disposição pelo governo”, segundo diz a nota liberada hoje pelo Tesouro, pelo Fed e três agências de regulação financeira dos EUA.
Bem, dá quase vontade de rir. Se um banco estiver para quebrar (se não “passar” no “teste de estresse”), qual agente privado vai colocar dinheiro lá?
Como serão tais testes de estresse? Qual o cenário econômico que será usado? Recessão profunda, de mais de 3%? De 1% e pouco, como estima o Fed? Qual o nível de desemprego e calotes? Ninguém sabe nada, e os testes podem ser truque também.
Segundo o “Financial Times”, os concorrentes menos podres estão preocupados com os privilégios que um Citi estatizado, ou quase, possa ter, como capital barato. Fazem lobby para limitar o raio de ação do Citi.
De resto, a que foi a maior seguradora do mundo, a AIG, estatizada em setembro de 2008 pelo governo dos EUA, está quebrando de novo _o pacote de socorro da seguradora começou com US$ 85 bilhões, passou a US$ 150 bilhões e agora deve ficar ainda maior. A AIG vai quebrar dentro do governo. Como a Merrill Lynch quebrou dentro do Bank of America.
Está o caos e a barbárie no sistema financeiro americano.
Escrito por Vinicius Torres Freire

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Woody Allen,O Sobrevivente

Woody Allen é um cineasta notável em todos os sentidos.O Oscar não consegue ignorar a sua capacidade de escolher boas atrizes como Diane Keaton e Penelope Cruz.Eu sou um novato no campo da cinefilia blogueira e já vi que ele chegou aqui tambem com muita força como atestam as palavras do Heraclito Maia:"Eu tinha parado de acompanhar a carreira do Allen após DIRIGINDO NO ESCURO, e só voltei recentemente com O SONHO DE CASSANDRA e VICKY CRISTINA BARCELONA. Decidi então ver em seqüência os filmes que estavam faltando. MELINDA E MELINDA é o único que achei fraco. A idéia de contar uma mesma história de duas formas, uma cômica e outra trágica, é ótima, mas acho que Allen não foi bem sucedido em nenhuma das duas. PONTO FINAL eu achei espetacular, tão bom ou melhor que O SONHO DE CASSANDRA. A temática tão presente em toda sua obra, dos atos ridículos que o ser humano é capaz de cometer por conta de fraquezas (paixão, ambição, etc.) foi muito bem trabalhada aqui. Já SCOOP é o retorno de Allen às suas melhores comédias. E de certa forma dialoga com PONTO FINAL, como se fosse uma versão cômica do mesmo. Mais ou menos como se MELINDA E MELINDA fosse desdobrado em dois filmes distintos, só que dessa vez acertando plenamente o alvo."

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Capitulo 8

Se os comunistas eram de um mau humor insuportavel,as piadas politicamente incorretas com as desgraças do sistema ja não tinham mais graça.Ele,um pequeno desastre individual,nessa hora,como todo mundo,tinha que se transformar em um heroi sem querer querendo como The Spirit.

A Vida é Bela,apesar do desemprego

http://www.youtube.com/watch?v=qRX57zprNdw

Capitulo 7

Repentinamente ele descobriu que a vida era uma piada.Já podia escrever um livro,porque já conhecia um pouco da sua propria ignorancia.Já sabia que ainda que tentasse ser profundo e individual seus textos sempre pareceriam ridiculos como os do Sarney.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O Sobrenatural de Almeida existe

Texto extraido do blog Clube da Evidencia:
As orações praticadas por terceiros podem influenciar positivamente o curso clínico de pacientes coronários?
Breve introdução: A reza tem sido descrita como um dos métodos mais antigos de cura da humanidade e, ainda hoje, tem sido amplamente usada como terapia no combate e controle a diversas afecções. Principalmente com o avanço da Medicina Alternativa e Complementar que tem sido observado em resposta à Medicina tradicional mecanicista, orações e seus efeitos na saúde se tornaram importante objeto de análise em estudos científicos.
É consenso que a mente pode influenciar a resposta do corpo às condições de saúde e, portanto, orações praticadas pelo doente podem modelar o desenvolvimento da doença, bem como outras atitudes psicológicas. Entretanto, apesar da crença popular de que orações realizadas por terceiros teriam poder de cura, este ainda é um tema divergente e polêmico da Medicina atual.
Nosso objetivo era responder essa questão e, para tal, separamos dois artigos científicos de estudo clínico randomizado que se mostraram a favor da influência positiva da reza praticada por terceiros em afecções coronárias, apesar de haver referências científicas que mostrem o contrário.
Estratégia de busca: “intercessory prayer” e “remote intercessory prayer” no google acadêmico.
Artigo Apresentado: Autor: Harris W., Gowda M., Kolb J. e cols.
Ano de publicação: 1999
País: Estados Unidos
990 pacientes admitidos na unidade de tratamento coronário do hospital MAHI, em Kansas City, EUA, foram dividos, aleatoriamente, em dois grupos: um receberia orações vindas de um grupos de oração e um não receberia orações desse grupo.
Os pacientes não sabiam em qual grupo estavam e tampouco sabiam que estavam participando desse estudo, e não havia qualquer tipo de contato entre o grupo de oração e o paciente a ser beneficiado. Então, usando uma escala elaborada por médicos do próprio hospital, era avaliado o curso clínico do paciente internado, levando em conta eventos cardiovasculares e relacionados, bem como procedimentos realizados durante a estada no hospital. O tempo médio de internação também foi medido nos dois grupos.
Não houve diferença significativa no número de ocorrências de cada procedimento ou evento cardiovasculares isoladamente nos dois grupos e não houve diferença significativa entre o tempo de internação hospitalar nos dois grupos. Porém, utilizando-se a escala que reúne todas as ocorrências de eventos ou procedimentos, o grupo que recebeu as orações obteve um escore significativamente menor que o outro grupo (6.35 +- 0.26 contra 7.13 +- 0.27, respectivamente, com P = 0.04).

Clinical Bottom Line: Portanto, de acordo com o artigo apresentado, o recebimento de orações praticadas por terceiros, não estando os pacientes cientes dessa prática, pode influenciar positivamente o curso de pacientes internados na ala de tratamento coronário do hospital. Os autores não elaboram sobre o mecanismo pelo qual isso aconteceria.

Um Pouco de Historia do Mal

Texto extraido do blog Clube da Evidencia:***Do Surgimento da Unidade 731***
Apesar de uma longa história de esforços e lutas na tentativa de salvar vidas e reduzir o sofrimento dos pacientes, algumas vezes a medicina tem sido usada para fins distorcidos. O conhecimento adquirido capaz de curar, também pode ser usado para aumentar a eficiência de matar. Um exemplo reconhecido mundialmente foram os estudos nazistas realizados em campos de concentração durante a segunda guerra mundial. Poucos sabem, no entanto, que o oriente apresentou um modelo bem parecido no mesmo período histórico. Entre 1932 e 1945, médicos japoneses realizaram inúmeros experimentos com prisioneiros de guerras e civis, incluindo tratamentos desumanos e vivisseções (NIE, 2002).
Partindo da observação real de que mais soldados morriam de causas infecciosas do que em batalhas, o governo japonês criou diversas unidades para a pesquisa de prevenção de doenças em soldados japoneses, bem como estudos que pudessem aumentar a mortalidade infecciosa em inimigos militares ou civis (POWELL, 2006). Acredita-se que ao longo de 13 anos de pesquisa, 10.000 cobaias humanas tenham perdido suas vidas diretamente e que outros 200.000 teriam morrido em conseqüência de surtos epidêmicos. Dentre as vítimas haviam chineses, russos, coreanos, europeus e americanos (KLIETMANN, 2001)(CHANG, 1999).
A mais famosa dessas unidades de pesquisa é conhecida como Unidade 731, tendo sido coordenada pelo general Shiro Ishii (foto), anteriormente professor de cirurgia da Universidade de Kyoto (WATTS, 2002). Criada em 1936, com sede localizada na região da Manchúria, na cidade de Pingfang, próxima a Harbin, a Unidade 731 chegou a ocupar 150 edificações e possuir 3000 funcionários, além de diversas unidades subsidiárias como as unidades 1855 (em Beijing), 200 (na Manchúria) e 9420 (em Cingapura) (BYRD, 2005). Na época recebeu o nome fictício de “Escritório de Purificação e Descontaminação de Reservatórios de Água”, não chamando qualquer atenção até próximo do fim da guerra (KLIETMANN, 2001) (CHANG, 1999).
Apesar de não ter assinado a Convenção de Genebra, que versa sobre a proibição de usos de armas biológicas, o governo japonês manteve suas equipes de pesquisa de armas biológicas em sigilo. As principais pesquisas realizadas pela unidade 731 consistiam em estudos sobre cólera, peste bubônica, malária, condições extremas e doenças sexualmente transmissíveis (altamente prevalente entre soldados de qualquer nação). Apesar da maioria dos pacientes terem sido prisioneiros de guerra, alguns eram civis raptados nas vilas conquistadas da China, da Rússia e da Coréia. A partir do momento em que eram alocados em pesquisas, os indivíduos perdiam seus nomes erecebiam números de identificação. Entre os funcionários da Unidade, eram conhecidos como maruta, isto é “toras de madeira”. Essa despersonificação dos prisioneiros demonstra que, como nas pesquisas nazistas, estes não eram reconhecidos como seres humanos, mas apenas como cobaias (NIE, 2004).
Bibliografia
POWELL, T., Cultural context in medical ethics: lessons from Japan. Philosophy, Ethics and Humanities in Medicine. 2006 Apr 3;1(1):E4.
WATTS, J., Victims of Japan's notorious Unit 731 sue. The Lancet. 2002 Aug 24;360(9333):628. (WATTS, 2002)
NIE, J.B., Japanese doctors' experimentation in wartime China. The Lancet. 2002 Dec;360 Suppl:s5-6. (NIE, 2002)
NIE J.B., The West's dismissal of the Khabarovsk trial as 'communist propaganda': ideology, evidence and international bioethics. Journal of Bioethical Inquiry. 2004;1(1):32-42. (NIE, 2004)
KLIETMANN, W.F.; Ruoff, K.L., Bioterrorism: implications for the clinical microbiologist. Clinical Microbiology Reviews. 2001 Apr;14(2):364-81. (KLIETMANN, 2001).
CHANG, I. et al. The Asian-Pacific War, 1931–1945: Japanese atrocities and the quest for post-war reconciliation. East Asia Volume 17, Number 1 / March, 1999 ISSN 1096-6838 (CHANG, 1999)
BYRD, G.D., General Ishii Shiro: His Legacy is that of Genius and Madman. Thesis presented to the faculty of the Department of History East Tennessee State University, May, 2005, disponível no sítio http://etd-submit.etsu.edu/etd/theses/available/etd-0403105-134542/unrestricted/ByrdG042805f.pdf (BYRD, 2005)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Capitulo 6-Venom

Ele tinha uma estranha atração pelos textos radicais do pessoal da Direita que não cansa de nos avisar do mal escondido em nossos corações,mas já estava cansado dessas leituras.Tentava ocupar seu tempo com os delirios do cinema,mas não podia fugir de caras como Clint Eastwood.Ser bom é um passo tão leve e,ao mesmo tempo,tão complexo.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

O Impossível Acontece

Como diria Nelson Rodrigues,o Sobrenatural de Almeida estava do lado do Fluminense.

Uma Pelada Triste e a Alegria Vestida de Sol

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Enquanto isso na China...2

Paulo Francis dizia que...

(O Globo, 18/02/96) - EUA - Demi - Demi Moore não devia ter colocado silicone no seio. Não precisava. Seus recursos naturais eram mimosos, como vimos quando foi ao Rio. Não é todo homem, eu diria que não é homem de bom gosto, que admira os seios tamanho família, produzidos pelo silicone, que, falando nisso, parecem todos iguais e de borracha.Ainda assim, Demi é um taco. Nos bons tempos de Hollywood, ela receberia o apelido de O Corpo e seria mostrada nua, na medida pré-pornográfica permitida às estrelas, e faria muito amor. Mas a moda hoje exige atividade importante para a mulher. Demi em "A letra escarlate", desconstruiu sem dúvida a história de repressão sexual e calvinismo, escrita por Nathaniel Hawthorne, de quem um avô foi juiz calvinista que queimou feiticeiras. Agora, em "A jurada", ela é convidada a fazer parte de um júri e diz que gostaria muito. Mulher como Demi preferia ir para a Romênia a ser jurada. É chatíssimo. Paga mal. Muita gente não vota, já que o voto não é obrigatório nos EUA, porque, se se tira título de eleitor, se é candidato certo a jurado.O réu é da Máfia. Demi começa a ser ameaçada por um modelo de roupas masculinas, Alec Baldwin. Tem um filho de 11 anos. Alec ameaça atropelá-lo. Os dois berram muito nessa seqüência, imaginando que isso é representar como manda o Actor’s Studio. Demi freta um avião sem sequer ter cartão de crédito... O quebra-pau final é no Panamá. Não falemos de verissimilitude. Estamos no mesmo mundo de narcisismo estratosférico que leva a uma invasão de índios na terra de Esther Prynne, na "Letra morta" de Demi. Vai-se vê-la pelo corpo. Querer drama é pedir demais.

Enquanto isso na China...

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

capitulo 5

Genial no ser humano é a bondade.Quem puder ser bom que seja.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Capitulo 4

Foi aí que ele topou na questão básica.Não era a de Shakespeare e sim,ter ou não ter.Depois de negociar varias metas com varias escravas,caiu na questão trágica e matemática:Dinheiro,beleza e inteligencia eram condições necessárias e não suficientes.Mas ele só teria autoridade para expulsar os vendilhões de templo se conseguisse um ilusão melhor que a deles.A propaganda é só o fantasma do negocio.Um sonho teria que megulhar na cornicha do mercado.Nos ultimos anos sonhos como a generosidade e a eficiencia haviam morrido no velho leste e no novo mundo.Ele ficava imaginando em qual sala escura estaria escondida a esperança.Talvez ela estivesse em algum cinema vendo as aventuras de Peter Parker.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Um Jogo Imortal

Moniz Vianna,o cinema e o Flamengo.Nelson Rodrigues,o Teatro e o Fluminense.O Fla-Flu e a Imortalidade:

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Confissões de Um Ignorante ou Elegancia e Generosidade 3

Quero pedir perdão por dois pecados:Não conhecia Moniz Vianna e ate bem pouco tempo atrás não sabia da importancia espiritual do futebol brasileiro.Depois das confissões começo minha penitencia reproduzindo o Texto de Sergio Augusto no Jornal Estado de São Paulo: *** O homem que melhor nos ensinou a ver um filme*** Com a morte de Antonio Moniz Vianna, em janeiro, o País perdeu o seu mais influente, elegante e incisivo crítico.Um minuto de silêncio precedeu o jogo do Flamengo contra o Volta Redonda, domingo passado, pelo Campeonato Carioca. Quantos dos presentes no Maracanã conheciam, ainda que vagamente ou só de nome, Antonio Moniz Vianna?, perguntei-me ao saber da homenagem, seguro de que jamais teria uma resposta satisfatória. Moniz Vianna, morto na madrugada do último sábado de janeiro, aos 84 anos, não era uma celebridade, apenas um dos mais ilustres torcedores do Flamengo, sua maior paixão depois do cinema. Célebre ele fora em décadas passadas e famoso há de ficar como o primeiro crítico de cinema brindado com um minuto de silêncio no Maracanã.
Se vivêssemos no melhor dos mundos, todas as salas de exibição brasileiras também lhe teriam prestado alguma forma de homenagem em suas matinês do último domingo, pois o cinema lhe deve mais, muito mais, tributos que o futebol do Flamengo.
Moniz foi, simplesmente, o mais influente crítico de cinema do país. Não há controvérsias sobre o que acabo de afirmar. Ele não só escrevia todos os dias, sobre quase todos os filmes em cartaz, como seus comentários, quase sempre tomando duas ou mais colunas de alto abaixo do jornal, saíam no então mais lido diário de circulação nacional, o Correio da Manhã. Isso numa época (de 1946 ao final dos anos 60) em que, no mundo inteiro, a crítica de cinema diária era curta, ligeira e pedestre
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Seus competidores, portanto, não foram Bosley Crowther (por longo tempo o principal crítico do New York Times) ou Louis Chauvet (idem do France-Soir), mas aqueles, mais ensaísticos, com mais tempo para escrever e espaço para se espalhar em publicações semanais, mensais e especializadas, como André Bazin e Jacques Doniol-Valcroze (que dividiam a seção de cinema do L?Observateur, futuro Nouvel Observateur), James Agee (Time), Otis Ferguson (The New Republic), Robert Warshow (Partisan Review), Manny Farber (The Nation). Daí porque boa parte dos cineastas (Nicholas Ray, Robert Aldrich, Budd Boetticher, os que trabalharam na unidade de Val Lewton, na RKO) cuja descoberta costuma ser atribuída aos franceses, notadamente aos da revista Cahiers du Cinéma, foram na verdade "revelados" por Moniz.
Como escrevia com extrema elegância, incisividade e inigualável erudição, pois, afinal de contas, via de tudo, ao contrário dos franceses, que ficaram, por alguns anos, alheios ao que Hollywood produziu durante a 2ª Guerra, e dos americanos, com limitada intimidade com a produção comercial europeia, conquistou admiradores da Amazônia ao Rio Grande do Sul. Influenciou duas ou três gerações de críticos, alguns dos quais discípulos diretos, como Valério Andrade (que, aos 20 anos, se mandou de Natal, no Rio Grande do Norte, para conhecer o mestre pessoalmente, tornando-se, ainda em 1959, seu primeiro assistente na coluna do Correio da Manhã), Walter Lima Jr., Paulo Perdigão, e, mais tarde, Ruy Castro. Foi também o "wagonmaster" de toda uma linhagem de críticos surgida no início dos anos 1950, no Rio (Ely Azeredo, Décio Vieira Ottoni), em Belo Horizonte (Cyro Siqueira, Mauricio Gomes Leite), e onde mais o Correio da Manhã pudesse ser lido.
Ainda do tempo em que a palavra fita era sinônimo de filme, Moniz preferia chamar de cenário (do francês "scénario") o que há tempos chamamos de roteiro e também só em francês (e no masculino) se referia à montagem ("o montage"). Passou anos traduzindo "novel" por novela, em vez de romance, até que, à falta de reclamações ou cobranças para as quais guardara uma explicação etimológica arrasadora, capitulou ao termo corrente. Tinha especial apreço pelo adjetivo "admirável", peculiaridade que só fui notar relendo a única coletânea de suas críticas, reunidas, em 2004, por Ruy Castro: Um Filme Por Dia (Cia. das Letras).
Venerava John Ford. Não procede, contudo, que em sua lista dos "dez melhores filmes de todos os tempos" figurassem 11 ou 12 criações de Ford. E não foi ele quem, instado a indicar os três maiores gênios do cinema, respondeu: "John Ford, John Ford e John Ford." Se o fizesse, estaria plagiando Orson Welles. Seu filme predileto sempre foi Aurora, de Murnau.
Mas ao genial irlandês do Maine reservou o melhor altar de sua catedral. Acima de todos, O Delator (The Informer), seguido, mais ou menos nesta ordem, por No Tempo das Diligências (Stagecoach), Depois do Vendaval (The Quiet Man); O Sol Brilha na Imensidade (The Sun Shines Bright) - isto mesmo, na imensidade, e não na imensidão; Como Era Verde o Meu Vale; A Longa Viagem de Volta; O Homem que Matou o Facínora; Rastros de Ódio (The Searchers). Sua última crítica, no Correio da Manhã, publicada em 9 de setembro de 1973, foi, justamente, sobre John Ford, , que morrera 10 dias antes.
Fui também seu assistente, junto com Valério Andrade, no começo dos anos 1960, suprema conquista profissional acalentada desde os 14 anos, quando, por acaso, bati os olhos na primeira crítica assinada por ele, e, mesmerizado pela leitura, decidi ali mesmo o meu destino. Moniz foi meu maior mestre, meu mentor. Era uma figura mítica, assaz fordiana: rigoroso e gentil, ranheta e bem-humorado, um pouco como o pater famílias encarnado por Donald Crisp em Como Era Verde o Meu Vale. Divergíamos em muitas coisas (inclusive no futebol); quase entramos em rota de colisão por causa da crítica ("demasiado sionista") que fizera de Exodus, de Otto Preminger; e para alguns dos cineastas brasileiros que ele mais apreciava (Lima Barreto, Jorge Illeli, Rubem Biáfora, Walter Hugo Khouri) eu vivia torcendo o nariz.
Apesar da fama de "inimigo número um do cinema brasileiro", ajudou-o como poucos, e sem favoritismos, quando à frente da Comissão de Auxílio à Indústria Cinematográfica, no governo Carlos Lacerda, e do Instituto Nacional de Cinema. Não foi o único a atacar, com implacável rigor, a chanchada, achincalhada por todos os críticos em atividade nos anos 1940 e 1950. Até por Alex Vianny, proverbial defensor do cinema brasileiro. Não havia clima nem distanciamento suficiente, naquele tempo, para se avaliar, sem parti-pris, o fenômeno da chanchada. Mas não há dúvida que, de todos os seus detratores, Moniz foi o mais virulento.
Os Fla-Flus, de inegável cunho ideológico, que ainda se promovem entre Moniz e Alex ou entre Moniz e Paulo Emílio Salles Gomes me parecem ociosos, se não estapafúrdios. Paulo Emílio foi um (grande) ensaísta, de produção mais compassada, não um crítico ativo cotidianamente, exposto a escolhas e julgamentos tangidos pela urgência. Moniz e Alex, ao menos, jogavam na mesma liga: eram ambos críticos de militância diária, mas Alex tinha contra si dois fatores: seus textos não possuíam o brilho e o charme dos de Moniz, nem desfrutavam da mesma periodicidade, profusão e difusão. Passo ao largo de suas idiossincrasias ideológicas, vale dizer, de seu tropismo stalinista, porque, em matéria de idiossincrasias, Moniz tampouco era fácil.
Preferia René Clair a Jean Renoir, valorizava De Sica, Visconti e Fellini em detrimento de Rossellini, não trocava Pietro Germi por De Santis ou qualquer outro regista supervalorizado pelo PCI. Implicou, desde o início, com a Nouvelle Vague e o Cinéma-Verité (que considerava uma reciclagem tardia do Cinema-Olho de Dziga Vertov); detestava os atores formados (ou deformados, segundo ele) pelo Actor?s Studio; as produções de Jerry Wald para a Fox; o teatro-filmado de Delbert e Daniel Mann (ambos apelidados de "Little Mann", para evitar confusão com o "grande Mann", Anthony Mann, cujos westerns estrelados por James Stewart adorava); as neuroses de Tennessee Williams ("aquele mal psicanalisado dramaturgo"); as afetações e os modismos da crítica parisiense (desde o final dos anos 1940, quando alguém da La Révue du Cinéma, ancestral do Cahiers, proclamou: "Abaixo Ford! Viva Wyler!").
Moniz foi a primeira pessoa que Glauber Rocha, seu fã ardoroso, procurou, ao chegar ao Rio pela primeira vez. Ficaram amigos, depois brigaram e fizeram as pazes, como bons e passionais baianos (Moniz nasceu em Salvador e veio para o Rio com 11 anos). Estavam brigados quando Moniz elogiou Deus e o Diabo na Terra do Sol e de bem quando Moniz pichou Terra em Transe (a seu ver, "caótico e ininteligível"), o que não impediu que o fero mas generoso crítico, então no INC, se esforçasse para liberar Terra em Transe, proibido pela ditadura militar.

Uma Pausa para o Recreio

Bem que o Woody Allen me avisou sobre os filoterroristas

Elegancia e Generosidade 2

Uma poética, um legado e uma dádiva. Sobre Olympia, de Fausto Wolff
Lélia Almeida




Fausto querido,
Vou continuar no gênero epistolar, já que foi assim que começamos. Segue o que combinamos por e-mail, que são os meus comentários sobre o seu último romance.
Desculpe a demora para comentar o seu magnífico romance Olympia. Não gosto de demorar assim. Eu, particularmente, fico meio ansiosa quando peço uma opinião sobre o que escrevo, embora esteja convencida de que você não precisa da minha opinião sobre este romance.
Li as críticas excelentes do Marcelo Backes e da Eunice Esteves sobre o romance. E o comentário do Luiz Horácio também. Gostei muito de tudo o que eles escreveram. Gosto da crítica inteligente que pode ser iluminadora de uma obra literária e a universidade está, atualmente, dizendo qualquer bobagem sobre os ficcionistas. Ainda acho que, muitas vezes, alguns jornalistas cumprem melhor o papel de bons críticos do que os eficientes professores de teoria literária.
E quando a crítica literária inteligente ilumina o texto literário, é como se tivéssemos uma garantia de que o autor estabeleceu uma interlocução importante com o leitor e com o seu tempo. Alguns textos, no entanto, permanecem anos na solidão e no silêncio esperando que a crítica possa fazer a sua parte. Clarice Lispector teve de esperar muitas décadas para que a crítica feminista, por exemplo, pudesse nomear as singularidades do seu texto.
Penso que a crítica literária inteligente tem de ser criativa, da mesma maneira como o autor o foi quando escreveu. Sempre insisti com os meus alunos: está tudo ali, está tudo no texto, não procurem na internet, na casa da Mãe Joana, no Google ou onde for. O que o autor quis dizer está ali, nas páginas do livro. Lembrei de um aluno que me disse uma vez, eu não quero ser escritor, nem professor e nem crítico literário, eu quero é ser leitor, dona Lélia.
O seu romance me fez lembrar desse desejo dentro de mim, Fausto Wolff, eu também quero, antes de mais nada, ser uma leitora. Digamos que entre as muitas possibilidades que os livros nos dão, ser leitora ainda é a que mais me dá prazer.
Não vou, pois, me deter no que já foi dito de maneira primorosa pelos críticos citados, que tão bem perceberam a engenharia perfeita da narrativa, o brilhante jogo especular através de diferentes vozes que se desdobram em diferentes personagens, todos eles Fausto Wolff. A brincadeira da construção da criação do mundo, a megalomania teogônica. Enfim, para mim tudo o que foi analisado está correto e muito bem identificado.
Mas o que mais me encantou no seu romance, Fausto Wolff, foi constatar que este é um romance que fala sobre literatura. Palavras-luzes surgiram enquanto eu pensava no que escrever. O seu romance, quiçá a sua obra, Fausto, são uma reflexão permanente sobre a construção de uma poética, sobre a história de um legado e sobre a necessidade de ser dadivoso.
Estas reflexões aparecem em muitos momentos de Olympia, quiçá de toda a sua obra, repito, que eu ainda não conheço inteiramente, mas são, seguramente, reflexões que já apareciam em À mão esquerda. Vou começar esta interlocução, portanto, pensando nestas palavras-luzes, que me sinalizaram algumas questões.
Uma poética, um legado e uma dádiva.

I
Lembro que Antonio Candido chamou de realismo político um tipo de literatura produzida por jornalistas, a partir dos anos 70, e que foi a responsável pela possibilidade de lermos a história recente do nosso país, a partir de olhos talentosos e críticos. O que fizemos nos anos 70 e 80, na literatura, outros países latino-americanos estão começando a fazer muito recentemente. E, os responsáveis por uma produção literária crítica e talentosa, que contava o que estava acontecendo, naquele momento, no país, foram nomes que são muito pouco lidos, na atualidade, como os romancistas Paulo Francis, Darcy Ribeiro, Antonio Callado, Sinval Medina, Ivan Ângelo, Loyola Brandão e Fausto Wolff, só para citar alguns.
Este tipo de literatura, que fala diretamente da história das ditaduras nos nossos países, da história da censura naquele momento, uma literatura bastante testemunhal, está ainda na ordem do dia na literatura latino-americana. Autores como Marcela Serrano e Ariel Dorfman, no Chile, Elza Osório e Liliana Hecker, na Argentina, Julia Alvarez em Porto Rico, Mario Vargas Llosa no Peru e Carlos Fuentes no México, são alguns exemplos que me ocorrem agora. Mas são muito poucos ainda, no Brasil e menos ainda na América Latina, os que contam o que está acontecendo nos nossos países, na atualidade.
Muitos autores brasileiros, que eram, na sua maioria, jornalistas, já tinham produzido este tipo de literatura, com duas décadas de antecipação, em relação aos demais países latino-americanos. E acho que o fato deles serem jornalistas e terem sido banidos dos jornais e dos meios de comunicação fez com que a nossa literatura ganhasse potencialmente. Eduardo Galeano, no Uruguai, foi um exemplo importante deste tipo de literatura que misturava a poesia com a crônica política, histórica e criava um relato dramático que contava a história de terror que assolava os nossos países.
Talvez haja mais de uma explicação para estas assimetrias. Penso, sem me aprofundar muito na questão, que as datas realmente são diferentes. Quando ocorreram os golpes na Argentina, no Uruguai e no Chile, no Brasil já tínhamos dez anos de ditadura, e o processo de abertura democrática também aconteceu antes no Brasil do que nestes países. Mas não deixo de especular sobre a possibilidade de que este tipo de literatura, crítica, de denúncia e de testemunho, tenha acontecido ali, no calor dos fatos e dos acontecimentos, no Brasil, porque muitos destes romancistas tinham vindo de um jornalismo combativo, bem-humorado e comprometido.
E porque, alguns países, como é o caso da Argentina, talvez precisem de muito mais tempo para lavar a roupa suja tanto da ditadura e seus desaparecidos, como da Guerra das Malvinas, assuntos estes ainda proibidos no cotidiano do povo argentino. A literatura e o cinema que falam sobre esta história recente são realmente incipientes, nos demais países latino-americanos, se compararmos com o que os brasileiros fizeram ali, no calor dos acontecimentos.
E você, Fausto Wolff, que está na ativa há bastante tempo, está, atualmente, sendo celebrado pelo público e pela crítica, quando outros autores importantes daquela época sequer são conhecidos como ficcionistas, como é o caso do Paulo Francis, que tem romances importantes sobre aquele período. Mas a sua literatura avançou, falou do que acontecia naquele período e fala do que acontece, na atualidade, na história política do país, e muitos poucos se atrevem a esta crônica lúcida e impiedosa no calor dos fatos.

II
Lendo Olympia, Fausto, lembrei de um texto do Walter Benjamin [2] que eu gosto muito, sobre o narrador, O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. Para falar da obra do autor russo Nikolai Leskov, e sobre a questão da narrativa, Benjamin faz uma série de considerações sobre o ofício do narrador e as suas ponderações permanecem, para mim, de uma atualidade e pertinência impressionantes. É neste texto que ele fala dos dois tipos de narradores, o camponês sedentário e o marujo comerciante. Mas gosto especialmente quando ele se questiona sobre legitimidade da experiência narrada. E diz, - o texto foi escrito no período entre - guerras, que a narrativa está em crise, sua qualidade em baixa, porque as experiências vividas não valem a pena serem narradas. O que se viveu, a experiência da guerra, não vale a pena ser narrada. Não é digno de ser repassado, recontado.
A sua experiência literária, Fausto Wolff, vem nos dizer exatamente o contrário. Se, como queria Benjamin, não há narrativa sem experiência, e se o que foi vivido tem de ser narrado, e se o que foi dignamente vivido tem de ser narrado com qualidade, só há uma maneira possível de se viver. Que é viver com paixão, com entrega, com comprometimento, com inteireza e com coerência. O rigor da narrativa e da escrita provêem, portanto, de um rigor absoluto com este comprometimento e com esta coerência. De viver de acordo com o que se acredita e de acordo com o que se narra. Assim, o que foi vivido pode ser narrado porque foi vivido com verdade e grandeza.
Neste sentido a biografia de Gabriel García Márquez se chama justamente Vivir para contarla. No seu caso, Fausto Wolff, não há, todavia, uma tensão entre o ficcional e o autobiográfico, e nem mesmo uma mistura ao acaso destes elementos, há sim, a construção de uma poética, há uma maneira de fazer literatura que corresponde a um modo de viver. E há uma concepção absolutamente lúdica da vida e da literatura. A sua ficção é a construção de uma grande brincadeira, de um grande jogo, e que expressa um imenso prazer na feitura e na entrega do que se produziu.
Assim, as passagens que contam dos relatos do jornalista, as grandes reportagens, são absolutamente literárias, poderiam ser ou não ficção, não importando essa medida dentro da narrativa, porque só o que foi vivido com verdade merece ser contado. E como é impossível viver sem narrar, e como a narrativa tem de ser grandiosa, eloqüente, a vida também não pode ser pequena, nem mesquinha, e nem sem graça.
Mas a expressão desta narrativa que conta uma vida que engloba, na verdade, a história de muitas vidas, em muitos países, com muitas mulheres, cheia da história de muitos amores, com muitos porres e muitos enganos, tem que ser contada porque um outro aprendizado muito importante se dá. Junto com o que foi excessivamente experimentado, há um aprendizado através dos livros. Tanto os livros que se lêem como os livros que se escrevem.
Conhecer através dos livros é, pois um valor, um tipo de conhecimento altamente valorizado por você, Fausto Wolff, o único talvez, que se equipare ao conhecimento que a própria experiência nos dá. Mas não é só conhecer através dos livros, é conhecer através da literatura.
O teatro me deu uma vida, ouvi outro dia a Fernanda Montenegro dizer. No seu caso você poderia dizer, a literatura me deu uma vida, os livros me encheram a vida, as mãos, os livros me deram tudo. As palavras e as narrativas foram soberanas.
Há referências sobre a sua formação formal, ou sobre a ausência dela, em vários momentos dos seus livros. E mesmo assim, você escreveu nos jornais e periódicos mais importantes do mundo e lecionou em universidades onde muitos doutores jamais o farão. A necessidade da criação dos inventários dos seus diversos cânones parece ter uma função meio compensatória, inconsciente quiçá, como se o fato da aparente irregularidade da sua educação formal, sistemática, o fizesse ter de ser muito mais rigoroso e exigente com a sua formação de leitor e de escritor.
Assim como ler e conhecer através dos livros é um valor, e a educação através dos livros e do conhecimento é um valor, também repartir e dividir esta maneira de conhecer se constitui num valor importante.
Vida e literatura se misturam porque há a necessidade de construir uma poética, de criar um jeito de contar e este jeito de contar não pode estar separado do jeito de viver.
Todavia o jogo ficcional se evidencia através da mistura dos gêneros, que se constitui de forma fácil e fluente, só passível de ser realizada por um grande leitor de literatura. Os diálogos que possuem uma força dramática impecável, os caprichos do romance policial, as falsas coincidências os ganchos, a ensaística, uma mescla que revela a complexidade de um leitor que se diverte escrevendo assim como se divertiu lendo.

III
Portanto, penso que há neste romance uma poética, que é o jeito como você concebe a literatura, a sua literatura, Fausto, a sua maneira de fazê-la e você divide isso, de muitas maneiras com o leitor. Você desenha o mapa junto com o leitor.
Você diz ao leitor: o livro que não for o seu autor não vale a pena ser lido. Se o leitor não está vivíssimo é porque o escritor nem deveria ter começado a contar a história. (p.16) Você orienta o leitor: tudo o que foi escrito e narrado foi, necessariamente, vivido, foi, necessariamente sentido, seja da maneira que for. E para bem escrever é preciso bem viver. E bem viver é viver com verdade, com autenticidade. E viver em solidariedade, e viver de uma maneira lúdica e criativa.
Mesmo que no romance se cite Aristóteles lembrando que (...) o importante não era descrever o que realmente aconteceu, mas o que poderia ter acontecido. (p.263) Ou se imagine um diálogo em que Agamêmnon chama Odisseu de mentiroso, quando ele responde que a função do poeta não é narrar o que aconteceu, mas o que poderia ter acontecido. (p.311) O jornalista brinca com o leitor, faz-se de desentendido do ofício que ora desempenha:
(...) mas acho que estou confundindo vocês. É essa mania que vem do jornalismo, de querer botar as coisas em ordem cronológica para que todo mundo entenda o que estou querendo dizer. Para a literatura, porém, isso pode ser uma armadilha mortal, pois ela exige ação que em grego quer dizer drama, conflito. Por isso temo que sem conflito eu esteja simplesmente escrevendo como um escrivão policial. (p.34).
Mas isso tudo faz parte, na verdade, do jogo que ele anunciou que ia jogar, que é o jogo literário, ficcional.
Não só o que é narrado deve ter a dignidade da experiência vivida, sentida. A experiência vivida tem de ser ética, comprometer-se de maneira crítica e solidária com o seu tempo e com uma ascendência de artistas, com uma tradição. A um mundo neoliberal, capitalista, onde os valores humanistas não têm cabida, opõem-se os valores que falam do desejo de um mundo justo, dos valores mais caros e legítimos do artista que é, em última instância, Deus, Barroso, o artista, o escritor Fausto Wolff.
Só a arte pode responder aos desmandos destes tempos incompreensíveis. Mas uma arte que fale deste tempo, olhando criticamente o passado e, implacavelmente, o futuro.
Assim, brinda-se, ao longo das páginas de Olympia, à vitória do autoconhecimento sobre a ganância. Aquele que acha que o espírito é o espírito. (p.299). Contrapõem-se aos valores do capital os valores do espírito:
(...) Aliás, neste teu mundinho de merda, só se pensa em dinheiro e Deus, ou melhor, em falta de dinheiro e Deus. Ainda bem que existe gente como Homero, Shakespeare, Sócrates e Van Gogh - disse Barroso (p.324), um mundo em que (...) a arte tornou-se uma bufonaria comercial e o jornalismo é controlado. (p.279).
Acredita-se que os artistas são os únicos que podem derrotar as forças do mal que fazem com que a humanidade, ao longo dos tempos, sucumba à inveja, ira, sede de destruição e de poder. Já que (...) todos os homens trazem dentro de si a chama divina. Isso nos provam os poetas, os grandes artistas, os cientistas que, entretanto, estão longe da perfeição. (p.359) E esclarece-se que (...) a perfeição não existe. A perfeição consiste em buscar a perfeição. A perfeição é descobrir todas as nossas potencialidades até que todos nos tornemos deuses. (p. 360). E aprende-se da necessidade de compreender que (...) os homens não precisam de deuses e que só encontrarão a felicidade na Terra se descobrirem os deuses que vivem dentro deles. (p.457). E o deus que vive dentro do homem é o artista.
É da contraposição de dois mundos que fala Olympia, um (...) todos recebem de acordo com suas necessidades e colaboram de acordo com suas possibilidades. (p.74) e (...) outro onde se enfrentam três perigos fatais: a propriedade, o ouro e a cruz. (p.78).
E nesta mesma linha de associações, que compõem um ideário, um inventário de valores também, Barroso nos é apresentado como (...) poeta, escritor, cientista e guerreiro, (...) um homem rude, velho, gasto pelo tempo, pelas mulheres e pelas bebidas, para quem a morte é quase uma figura mitológica: (...) Venceram a morte há muito tempo e só morrem as pessoas cansadas de viver, o que também acontece, pois não conseguimos acabar com a angústia, a depressão, o isolamento, a sensação de desamor. A criação é a assassina da morte. Sem criação, a morte domina. (p.229)
Assim, a possibilidade de criar é a única maneira de vencermos a morte, o tédio, a indiferença e a solidão. E realizar uma literatura que tenha o valor de contar com a dignidade da experiência vivida e ter como modelo os grandes livros e os grandes autores. Sem os quais não aprenderemos o que realmente vale a pena. Portanto, é preciso viver como se vive nos livros. Com aventura, com rebeldia, com a certeza de que se pode criar, mesmo que seja através da literatura, um mundo digno e melhor.

IV
E há um legado também, Fausto. O legado tem a ver, na minha opinião, com uma espécie de inventário que você faz do que foi lido, aprendido, vivido, e que se constitui num tipo de herança, tributo, e também de uma belíssima homenagem.
É uma espécie de lista sem fim dos livros que você mais amou, dos autores que você mais gostou, dos pensamentos, das idéias e teorias que mais o influenciaram. E, principalmente, dos amigos com quem você dividiu tudo isso.
A maneira como as listas, os inventários são construídos, mostram a correspondência, uma equivalência da importância igual de todos estes elementos. A lista dos autores, dos personagens, dos artistas de cinema, dos filósofos, dos compositores, se dá na mesma ordem de significado e importância que a lista dos amigos presentes, dos amigos mortos, dos personagens anônimos da vida comum e corrente. Assim como a dos personagens boêmios mais folclóricos e interessantes que habitaram, numa idade de ouro, todos juntos, àquela que é, sem sombra de dúvidas, a cidade mais feliz lúdica do planeta, a cidade do Rio de Janeiro.
A todos estes personagens, - os boêmios que são o coração e a alma dessa cidade -, e a este cenário, você também compõe um inventário próprio e emocionante:
(...) Daqui há mais de vinte anos Joel se surpreenderá dizendo para um maître metido à besta no restaurante Photocahrt, no hipódromo: “Rapaz, não grita comigo por duas razões. Primeiro porque vou te meter a mão nas tuas fuças e vai chover merda sobre o Piauí durante duas semanas. Segundo, porque quando você me trata mal está tratando mal a cidade do Rio de Janeiro. E mais: os falecidos Sérgio Porto, Antônio Maria, Paulo Francis, Burle Marx, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Radamés Gnatalli, Villa Lobos, Albino Pinheiro, Di Cavalcanti, Elmar Machado, Ferdy Carneiro e os vivos Millôr Fernandes, Jaguar, Jânio de Freitas, Chico Paula de Freitas, Niemeyer, Ziraldo, Fernanda Montenegro, Tônia Carrero, os irmãos Caruso, os irmãos Casé, Ugo Carvana, Paulo Autran, Aldir Blanc, a família Buarque de Holanda, Paulinho da Viola, Paulo César Saraceni, Moacir Werneck de Castro, Fernando Sabino e alguns poucos outros. Nós, os boêmios, somos o coração e a alma desta cidade. Quando você me magoa para impressionar alguns grã-finos, está machucando esta cidade que sempre recebeu de braços abertos quem aqui chegasse.” (p.102-103)
Seu Olimpo particular é feito de autores, mitos, livros e das histórias dos seus amigos, a quem você paga uma espécie de tributo ao longo de todo o texto, homenageando-os, e fazendo-nos lembrar que a imortalidade só acontece quando a memória não morre.
Assim, numa mesma seqüência de significados, como quem não quer esquecer nada importante e ninguém indispensável, você lista escritores e pensadores como Shakespeare, Molière, Cervantes, Goethe, Dostoyevsky, Tolstoy, Kafka, Dickens, Poe, Rabelais, Montaigne, Saint-Exupéry, Manoel de Barros, Millôr Fernandes, B. Traven, Ésquilo, Sófocles, Eurípedes, Mario Quintana, Max Frish, Schopenhauer, Carl Gustav Jung, Marx, Sigmund Freud, Bernard Berkowitz, Homero, Lao Tse, Sócrates, Platão, Aristóteles, Marco Aurélio, Plotino, Lucrécio, Espártacus, Jesus Cristo, Sócrates, Platão, Aristóteles, Tales de Mileto, Erasmo, Paracelso, Agripa e Mesmer.
Elege temas sobre os quais, ao se revistar a história da criação do mundo, talvez não pudessem ficar de lado, fala sobre a natureza do amor, sobre os homens e as mulheres, sobre o tempo e o universo, o amor ao cinema, à música popular brasileira, o terror da Aids, a história das guerras, a política brasileira, seus temas preferidos, quem sabe, seus temas de preferência ou seus grandes pesadelos.
Há inventários de músicas e de compositores que lembram os nomes de Noel, Lupicínio, Geraldo Pereira, Dorival Caymmi, Ari, Lamartine Babo, Nássara, Mário Lago, João de Barro, Cartola, Zequeti, Chico Buarque. De personagens literários como Tirésias, Édipo, Prometheus, Barrabás, Spartacus ou Lilith.
E de textos imprescindíveis para compreender a história do mundo, suas esperanças e grandes tropeços, como os hinos do Rig Veda na Índia, o primeiro vocabulário grego em Knossos, os dez mandamentos, a seda chinesa, os instrumentos musicais entre os hititas, o tambor, o violão, a lira, o trompete, os sonetos de Salomão compilados, a fábula chinesa sobre a batalha entre a Mente e o Ventre, os poemas de Sapho em Lesbos, os Vedas hindus, os ensinamentos de Zoroastro 700 anos antes de Cristo, textos antigos do Iraque, da Assíria, os textos sumérios, hititas egípcios, hieróglifos, gregos e a Bíblia.
Há um inventário dos amigos mortos e cuja memória permanece intacta: Albino Pinheiro, Elmar Machado, Ferdy Carneiro, Sílvio Redinger, José Lewgoy, a mãe de Cássia, Ney Sroulevich, Leonel Brizola, Sérgio Carneiro, os mais recentes. Da leva antiga, havia Flávio Rangel, Carlos Kroeber, Darcy Ribeiro, Antonio Callado, Ênio Silveira, Josué Guimarães, Alfredo Machado, Henfil, Tarso de Castro, Augusto Villas Boas, Paulo Francis, Nássara, Mário Lago, que se foram sem ver a liberdade raiar no céu da pátria (p. (p.458-459).
Dos amigos reais e dos imaginários, que atendem pelos nomes de Rubinho, Machadão, Albino Pinheiro e rei Zulu, Blutterkowski, Gabriel, Sete Quedas, Waldir, Guchica, o Kroeber, o Guinle, o Tabajara e Francisco Alves.
A homenagem aos vulcões da maromba de Aldiroblanco (p.118), à batucada no Clube do Samba, na Sernambetiba, com Jean Scharlau. (p.318), a estrela Maysa, a mais poderosa do desconhecido Quarternário podia ser vista... (p.448), à Escola Professor Marcelo Backes, (p.413), aos cartazes de Ziraldo (p.471), só para citar alguns.
E a utopia de um mundo de justos, de novos trinta e seis homens justos, que poderiam ser, por exemplo:
(...) Um poeta analfabeto, um limpador de vidraças, um piloto como Saint-Exupéry, um troca-trilhos, a dons de um bordel para horrendos pobres, um encadernador de livros, um chef de cuisine, um palhaço de circo, um homem que entende a linguagem dos cavalos, um virologista de grande talento, uma dançarina de balé, um peão de fazenda, um cachorro, um asno, Manoel de Barros, um mágico, um bêbado, uma porta-bandeira da Mangueira, um louco de aldeia, uma professora primária extremamente competente, um autista, um observador de passarinhos, um passarinho, um mentiroso inofensivo, uma puta bela e generosa, o diretor de cinema Mario Monicelli, o ator de cinema Ugo Tognazzi, o filósofo Millôr Fernandes, um padre que realmente cumprisse os dez mandamentos, um pelicano, o escritor B. Traven, bom barbeiro, um salva vidas, uma enfermeira que imprimisse um espírito de missão ao seu trabalho, o dono de um botequim que fiasse cachaça e um consertador de brinquedos. Eles, certamente, garantiriam mais alguns séculos à Terra. (p.253)
Os deuses e autores famosos são tão importantes quanto as gentes comuns, os atores famosos do cinema, e quanto os seus grande amigos.
Enfim, há vários inventários, na verdade, ao longo da narrativa, e você parece um obsessivo colecionador renascentista, amoroso, cuidadoso, enumerando, com medo de não contemplar a todos os que lhe foram caros, imprescindíveis, importantes.
Uma enciclopédia com uma espécie de inventário onde você lista as suas idéias, Fausto, e as da sua geração, quando o que se aprendia com a literatura, com os livros ou com o cinema, se constituíam como uma prática humanizadora legítima.
Você tem de fazer menção a estes cânones todos, Fausto, cânones literários, jornalísticos, políticos, e dividi-los conosco, leitores, essa é a sua forma de dizer que sem estes senhores e suas idéias você não seria quem você é. E é por isto que quando penso neste legado, penso também num tributo. Você é grato a todos os seus cânones por tudo o que aprendeu com eles e é generoso conosco, leitores, porque faz o desenho do mapa, do mapa das minas e subterrâneos que você tão arduamente habitou e escavou.
Você, Fausto, nos brinda com as suas coleções particulares, com o seu patrimônio pessoal, com a sua bagagem, que é tudo o que você possui. Lembrei de uma frase quando o protagonista do À mão esquerda explica para o pai que tudo o que ele possui está dentro da sua cabeça.

V
E porque há uma poética e um legado, há também uma dádiva. Gosto muito da idéia da dádiva concebida por Marcel Mauss em seu Ensaio sobre a dádiva: forma e razão de troca nas sociedades primitivas, de 1923, do qual só posso falar como uma leiga.
Do que me lembro deste texto que li já faz muito tempo, as trocas seriam fenômenos coletivos e responderiam às necessidades culturais, simbólicas, muito mais do que às necessidades utilitárias. Elas selariam as alianças e as comunhões. Da mesma maneira que devolvemos um pedaço de bolo de milho pra uma vizinha que nos presenteou com uma cumbuca de arroz doce. Por isso é tão importante a necessidade da retribuição das dádivas, dos presentes, dos dons. E haveria uma tríplice obrigação no movimento da dádiva: o de dar, o de receber e o de retribuir.
E retribuir é sempre uma maneira de se homenagear e de se agradecer. E você, Fausto Wolff, grato pela dádiva, e pela vida que recebeu de todos os que o antecederam, reparte conosco a sua herança, conosco que somos seus leitores, essa é a sua parte no contrato da dádiva: retribuir o que recebeu, o que lhe foi dado, material e espiritualmente. E você faz isso, reordenando o mundo, escrevendo um romance, criando uma obra, deixando um legado, que são as suas idéias, que é a sua história e a história do seu aprendizado como artista.
Você agradece aos seus cânones de pensadores e de escritores. Mas você agradece, fundamentalmente, a sorte de ter os amigos que teve e com quem dividiu a vida. É a eles que você dedica o livro, a sua aventura num mundo possível chamado Olympia. E, simplesmente, porque foi com eles que você construiu este mundo.
A dedicatória de Olympia é uma dedicatória feliz, a da história de um testemunho quando os projetos coletivos eram legítimos e muito mais importantes do que projetos pessoais e individuais. A amizade, o exercício da amizade foi, diferentemente do que é para as gerações atuais, orkuteiras e superficiais, um projeto político, um jeito de existir, para quem a solidariedade começava ali, numa mesa de bar e se expandia mundo afora.
Os amigos fazem parte, portanto, de um projeto coletivo fundamental, constituintes, estruturantes, parcerias identitárias sem as quais não é possível sobreviver.
Um mundo de esbórnia e putaria, de farra grossa, de boemia e rebeldia, proibido para yupes, caretas e amadores, cheio de gente atormentada, nem sempre felizes, mas quase sempre muito alegres, fina flor do deboche e da anarquia, grandes leitores e grandes talentos, grandes bêbados e amantes destemidos, e os melhores amigos do mundo.
E há uma grita permanente contra a acomodação, contra a caretice, contra o falso moralismo e contra a hipocrisia. E há um hino permanente também, lembrando que somos ridículos, pequenos, e que a vida só vale a pena se pensarmos num projeto decente para todos. Que rir é fundamental, que namorar é mais fundamental ainda, tanto quanto viver cercado com os amigos com quem dividimos a vida e a obra.
Quando terminei de ler Olympia, pensei em você, Fausto Wolff, como um homem dadivoso, como um homem generoso. Que acredita e cumpre com tudo o que nos foi confiado ao longo do romance. Num mundo onde as idéias e os ideais são importantes, onde a socialização do conhecimento é fundamental, e onde o florescimento da esperança é indispensável. Já que, como diz Waldir para Dona Aracy, quando perguntado sobre se ela ainda pode ter esperanças das coisas melhorarem no nosso país: (...) - É claro, dona Aracy. Desde 1964 que esperamos para ver a esquerda no poder. Tenho certeza de que o ano que vem as coisas irão melhorar. (p.415)
Mas esta esperança é feita de concretudes, uma delas pode ser a existência de um livro, de um romance chamado Olympia, talvez, que conta de um mundo que será lembrado cada vez mais, com muita saudade, por muitos poucos.
Obrigada por seu romance maravilhoso, Fausto Wolff. Obrigada por me deixar sentar na mesa do Veloso com você e com os seus amigos, obrigada por me deixar sentar com a Patota de Ipanema, com os doidos maravilhosos do Pasquim, modelares, canônicos, indispensáveis para muitos de nós ainda. Obrigada por dividir seu dom e seu arroz doce, sua ambrosia conosco. Obrigada pela sua ternura, pela sua utopia, pela sua fúria e pelo seu amor pelas gentes deste país, Fausto Wolff. Obrigada por me lembrar que ninguém é obrigado a ser pobre. A pobreza não é uma virtude. Virtude é o combate à pobreza. (p. 358), e por não ter desistido nunca e por me lembrar que é importante e urgente confiar num mundo onde as pessoas vão cantar pelos deserdados da terra. Obrigada por me fazer lembrar que é possível um mundo decente apesar da perversão dos nossos governantes, mesmo que este mundo esteja, neste momento, projetado no nosso imaginário, num lugar chamado Olympia.
Vou terminar este comentário com uma fala do Barroso e outra do Joel de Freitas. E vou transformá-las em bênçãos, tudo dádivas então, comunhão, reciprocidade dos gestos, construção de alianças sólidas através dos livros e das almas, eu garanto a você enquanto abençôo, o seu dever de casa foi feito com primor. Obrigada. E Amém.
(...) Cada homem tem o seu caminho e a sua missão. À medida que caminha, sua missão torna-se mais e mais clara. (...) Acredito que todos os homens trazem dentro de ti a chama divina. Isso nos provam os poetas, os grandes artistas, os cientistas que, entretanto, estão longe da perfeição. (p.359)
(...) - Quando menino sofri muito por sua causa. - disse Joel - Na adolescência, cheguei à conclusão de que o senhor não era importante para meus ideais. A perfeição da natureza informava-me da sua existência, mas não conseguia imaginar alguém tão solitário e com tamanhos poderes. Cheguei à conclusão de que todos nascemos para desempenhar um papel no sentido de dar sua contribuição para a evolução do homem; para seu entrosamento harmônico com a natureza. Acreditei que se desempenhasse meu papel honestamente não teria por que me preocupar com a existência de Deus. Se ele existisse, certamente não seria vingativo e nem me castigaria por meus insignificantes pecados. Se me cobrasse, na hora da minha morte, eu estaria pronto para demonstrar que fizera a minha parte. (p.250).
Com o abraço afetuoso da amiga certa,Lélia Almeida.Em Brasília, 16 de junho de 2008.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Recomeçar parece impossível

A segunda melhor cena de todos os tempos

O Dia em que A Terra não Parou

"(...) Um poeta analfabeto, um limpador de vidraças, um piloto como Saint-Exupéry, um troca-trilhos, a dons de um bordel para horrendos pobres, um encadernador de livros, um chef de cuisine, um palhaço de circo, um homem que entende a linguagem dos cavalos, um virologista de grande talento, uma dançarina de balé, um peão de fazenda, um cachorro, um asno, Manoel de Barros, um mágico, um bêbado, uma porta-bandeira da Mangueira, um louco de aldeia, uma professora primária extremamente competente, um autista, um observador de passarinhos, um passarinho, um mentiroso inofensivo, uma puta bela e generosa, o diretor de cinema Mario Monicelli, o ator de cinema Ugo Tognazzi, o filósofo Millôr Fernandes, um padre que realmente cumprisse os dez mandamentos, um pelicano, o escritor B. Traven, bom barbeiro, um salva vidas, uma enfermeira que imprimisse um espírito de missão ao seu trabalho, o dono de um botequim que fiasse cachaça e um consertador de brinquedos. Eles, certamente, garantiriam mais alguns séculos à Terra". ( Olympia-Fausto Wolff-p.253)

Capitulo 3

Ele teria que recomeçar como quem repentinamente se descobre sob uma ditadura de filoterroristas e espetalhões sem medula.Podia contar apenas com a boa vontade da Natureza,o conhecimento da fragilidade humana.Tal como Dude "Borrachon" ou Tony Stark teria que fazer a revolução de dentro que já havia tentado varias vezes.A única coisa diferente era o vento que mudava de direção sem os Muros de Berlim e Street para impedir sua movimentação.O mundo assim como ele tinha que aprender a conquistar uma alma no mercado dos corpos.A única arma que tinha era um bom humor tão paciente que parecia eterno como The Spirit.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Capitulo 2

Mas ele era Mino,Sarney,o País.Se voce fosse ele não faria diferente e estaria mudando como sempre acontece.Escrever é só uma forma de ver a invisível mudança dos tempos.

Um Faroleiro de Teresina-Capitulo 1

Quando ele começou sua busca por uma puta bela e generosa e por um padre que cumprisse os dez mandamentos não imaginava que chegaria a tal momento de impasse.Sarney havia vencido Glauber Rocha,Paulo Francis e Mino Carta.Só restava a ele parar,escrever,confessar e,a partir daí,começar de novo.O país talvez melhorasse com ele.

O Coro dos Descontentes

Enviado por Ricardo Noblat -
5.2.2009
9h05m
Mino Carta da adeus ao seu blog
Quando escolhi o Brasil como lugar definitivo da minha vida, optei também pelo jornalismo. Existe uma indissolúvel conexão entre as duas atitudes. E explico. Até o golpe de 1964, fui jornalista com séria dedicação profissional. De alguma forma mercenário, no entanto.
Diga-se que, depois da renúncia de Jânio Quadros, em agosto de 1961, quando a pressão militar só permitiu a posse de João Goulart, sucessor constitucional, ao forçar a adoção do parlamentarismo, eu ficara de sobreaviso. Mas o golpe se deu também sobre a minha alma e motivou minhas escolhas definitivas.
Entendi que fosse meu dever praticar o jornalismo em um país submetido à ditadura imposta pela classe dominante com a inestimável ajuda dos seus gendarmes, e que se uma única, escassa linha da minha escrita sobrasse para o futuro, teria conseguido conferir um mínimo de importância à minha profissão. Faço questão de sublinhar que não agia desta maneira pelo Brasil, e sim por mim mesmo.
Quarenta e cinco anos depois, vivo uma quadra de extremo desalento, em contraposição às grandes esperanças alimentadas durante a ditadura. Logo frustradas pela rejeição da emenda das eleições diretas após uma campanha a favor que honra o povo brasileiro. Fez-se, pelo contrário, a conciliação das elites, nos exatos moldes previamente desenhados pelo general Golbery do Couto e Silva. A aposta do Merlin do Planalto estava certa e vale até hoje.
Fez-se a conciliação para eleger Fernando Collor e para derrubá-lo. E novamente para eleger Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998. A Carta aos Brasileiros assinada por Lula foi uma tentativa de aparar arestas antes do pleito de 2002, aparentemente mal-sucedida, por ter convencido um número bastante diminuto de privilegiados. A conciliação veio depois da posse, a despeito do ódio de classe que até o momento cega a mídia.
A mim, que estou de olhos escancarados, a Carta convenceu por considerá-la sincera. Naquela época, não cansei de definir Lula como um conciliador desde os tempos da liderança sindical. No governo, contudo, ele foi muito além das minhas expectativas. Ou, por outra: deu para me decepcionar progressivamente.
O balanço de seis anos de Lula no poder não é animador, no meu entendimento. A política econômica privilegiou os mais ricos e deu aos mais pobres uma esmola. Há quem diga: já é alguma coisa. Respondo: é pouco, é uma migalha a cair da mesa de um banquete farto além da conta. O desequilíbrio é monstruoso. Na política ambiental abriu a porta aos transgênicos, cuidou mal da Amazônia, dispensou Marina Silva, admirável figura, para entregar o posto a um senhorzinho tão esvoaçante quanto seus coletes.
A política social pela enésima vez sequer esboçou um plano de reforma agrária e enfraqueceu os sindicatos. E quanto ao poder político? O Congresso acaba de eleger para a presidência do Senado José Sarney, senhor feudal do estado mais atrasado da Federação, estrategista da derrubada da emenda das diretas-já e mesmo assim, graças ao humor negro dos fados, presidente da República por cinco anos.
Outro que foi para o trono, no caso da Câmara, é Michel Temer, um ex-progressista capaz de optar vigorosamente pelo fisiologismo. Reconstitui-se o “centrão” velho de guerra, uma das obras-primas da conciliação tradicional. Enquanto isso, o Brasil ainda divide com Serra Leoa e Nigéria a primazia mundial da má distribuição de renda, exporta commodities, 55 mil brasileiros morrem assassinados todo ano, 5% ganham de 800 reais pra cima. E 2009 promete ser bem pior que pretendiam os economistas do governo.
Houve, e há, justificadíssima grita quanto às privatizações processadas no governo FHC. E que dizer do BNDES que empresta aos bilionários para armar a BrOi, a qual (é uma modesta previsão) acabará nas mãos de ouro de Carlos Slim? E que dizer da compra pelo governo de 49% das ações do Banco Votorantim à beira da falência?
Em um ponto houve melhoras sensíveis, na política exterior. E aí vem o caso Battisti. Até este serve ao propósito da conciliação, a despeito das críticas bem fundamentadas da mídia.
O ministro Tarso Genro disse em Belém que a favor da extradição de Battisti se alinham os defensores da anistia aos torturadores da ditadura, “com exceção de Mino Carta”. Agradeço a referência, observo, porém, que o ministro cai em clamorosa contradição. Não foi ele quem, em rompante que beira a sátira volteriana, sugeriu à Itália baixar uma lei da anistia igual àquela assinada no Brasil pelo ditador de plantão?
Talvez o ministro não saiba que enquanto no Brasil vigorou o Terror de Estado, na Itália houve uma gravíssima e fracassada tentativa terrorista de desestabilizar um Estado democrático de Direito estabelecido desde o fim do fascismo.
Se eu digo que o Festival de Besteira assola o País desde a época de Stanislaw Ponte Preta, e que se o ministro merece o Oscar do Febeapá, ao menos o professor Dalmo Dallari faz jus a uma citação, recebo as mensagens ferozes e as agressivas admoestações de centenas de patriotas. Pois não é bobagem (sou condescendente) dizer que na Itália dos anos 70 estava no poder um governo de extrema-direita, ou que se Battisti for extraditado, de volta ao seu país corre até risco de vida? Ou afirmar que Mestre e Milão, norte da península, são muito distantes, quando entre as duas cidades há menos de 200 quilômetros? Sem contar que, como me levam a observar vários frequentadores do meu blog, Battisti foi o autor do homicídio de Mestre e apenas o idealizador daquele de Milão.
Está claro que o ministro Tarso não erra ao dizer que a mídia nativa está sempre a agredir o governo de Lula, e contra esta forma desvairada de preconceito CartaCapital tem se manifestado com frequência. Ocorre que, ao referir-se à extradição negada a mídia está certa, antes de mais nada em função dos motivos alegados, a exibir ao mundo ignorância, falta de sensibilidade diplomática e irresponsabilidade política, ao afrontar um estado democrático amigo.
De todo modo, Battisti transcende sua personalidade de “assassino em estado puro”, segundo um grande magistrado como o italiano Armando Spataro, para se prestar a uma operação que visa compactar o PT e empolgar um certo gênero de patriotas canarinhos.
Isto tudo me leva a uma conclusão desoladora, embora saiba de muitíssimos leitores generosos e fiéis: minha crença no jornalismo faliu. Em matéria de furo n’água, produzi a Fossa de Mindanao, iludi-me demais, mea culpa.
Donde tomo as seguintes decisões: despeço-me deste blog e, por ora, calo-me em CartaCapital.
Creio que a revista ainda precise de minha longa experiência profissional, completa 60 anos no fim de 2009. Eu confiei muito em Lula, por quem alimento amizade e afeto. Entendo que o Brasil perde com ele uma oportunidade única e insisto em um ponto já levantado neste espaço: o próximo presidente da República não será um ex-metalúrgico com quem o povo identifica-se automaticamente. Conforme demonstra aliás o índice de aprovação do presidente, cada vez mais dilatado.
Vai sobrar-me tempo para escrever um livro sobre o Brasil. Talvez não ache editor, pouco importa, vou escrevê-lo de qualquer forma, quem sabe venha a ser premiado pela publicação póstuma.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O Oscar vai para Sarney

Sarney está aí de volta para o futuro num curioso caso de imortalidade.Vai aparecer em mais fotos de livros de Historia do que o Forrest Gump.O grande filme do Coppola,uma mistura de Poderoso Chefão e Drácula,seria um documentario sobre a vida do Highlander de Maranhão.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A Causa da Crise Financeira

Sempre que eu acho que tive uma ideia original e brilhante descubro que alguem já pensou antes e melhor como o Marcio Aith: "Capitalismo é como futebol. Sem regras é pelada. Com regras é competição e negócio. A principal regra do capitalismo em sua versão financeira é a manutenção da confiança. Confiança em que os bancos são porto seguro para investimentos. Confiança em que a probabilidade de calote de um determinado consumidor é justamente aquela descrita por análises de crédito. Por último, confiança em que, por pior que seja uma tormenta financeira alimentada pela quebra de confiança, há soluções, ainda que inacreditavelmente caras e engenhosas, capazes de restaurar... a confiança".

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Chico Renato em si mesmo

Congresso Interplanetario de Genios

Um Genio de Um Mundo chamado Piaui

Jose,o eterno

Se o nome do jogo é cinismo,Sarney é o melhor.Esqueçam Lula e Daniel Dantas.Quem dá as cartas é o maranhense que pode ganhar mais uma amanha e que voces podem ver no video a seguir: