terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Visões da Crise

1)NIVALDO CORDEIRO: um espectador engajado







A QUESTÃO CENTRAL DA CRISE
03 de dezembro de 2008

Qual é a questão central da crise econômica mundial? Não é nem a sua origem, indiscutivelmente derivada da desastrada atuação do Estado, que exorbitou no que pôde: na regulação, na emissão de moeda, nos gastos públicos e na determinação imperativa de empréstimos para pagadores duvidosos, gerando a bolha imobiliária. Dizer que a crise nasceu do mercado e das regras de movimento da sociedade capitalista é menos que burrice, é má fé.

Nem também é discutível a sua dimensão, já de proporções mundiais e profundas. Não se pode ser leviano diante da gravidade do momento. Essa crise já é a mais séria desde 1929 e deixará seqüelas por muitos anos.

Também é indiscutível que a saída da crise envolve a atuação do Estado, seja porque este tem o monopólio da emissão de moeda, pois se trata, antes de tudo, de uma crise de crédito, seja porque reformar o Estado se tornou tarefa de urgência. Sem a emissão monopolista não há como ser restabelecido o volume de crédito necessário para a superação da crise. Da mesma forma, é imperativo discutir a atuação e o tamanho do Estado. Se essa crise trouxe algo de bom é colocar essa questão para reflexão, mesmo que a maior parte dos economistas, os que supostamente têm os instrumentos para a superação da crise, partam do suposto de que o Estado deve aumentar.

A questão técnica não pode subordinar a questão ética.

Se admitimos que o tamanho e a exorbitância Estado estejam na raiz do problema, segue-se logicamente que seu crescimento não pode ser a solução, mas sim, o agravamento das coisas. O problema é que o debate na grande imprensa e mesmo na academia parte de supostos falsos, que levam a soluções falsas. É preciso restabelecer o primado da lógica e do princípio de realidade para nortearem a discussão.

Quero aqui focar na questão do crédito. Em tese, para que o crédito seja restabelecido nem o Estado precisa crescer além do tamanho que já tem e nem é necessário quebrar as regras morais da sociedade capitalista. Economistas como Krugman recomendam não deixar que as grandes corporações problemáticas vão à bancarrota, como a GM e o Citibank, beneficiárias do “boom” econômico artificial, bem como lamentam que o banco Lemann Brothers tenha sido liquidado. O equívoco econômico aqui se soma ao equívoco moral.

Essas grandes corporações tomaram decisões erradas, incharam custos, pagaram rendimento a acionistas, diretores e gerentes desproporcionais aos resultados obtidos. Então sancionar essas decisões com créditos abundantes e baratos, ou subscrição de capital, mesmo que condicionado a mudanças nas suas práticas corporativas, será um ato de profunda imoralidade. É dar dinheiro para maus gestores, que poderia ser utilizado ou para sanear o Estado ou para apoiar empresas sólidas e sérias.

Aqui o ato econômico são é também o ato revestido de plena moralidade. Ou deveria ser.

Para mim é essa a questão central, que deveria ser o dilema de consciência da equipe econômica de Barack Obama. Executar os atos morais é o caminho mais curto para a saída da crise. Praticar imoralidades é prolongar a crise até o limite do insuportável. Veremos nos próximos meses essa dança em torno da moralidade e o que dela emergir tornará o presidente eleito ou um estadista ou um vilão aos olhos da história.
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2)Caos e barbárie na banca americana
O governo Barack Obama começou a fazer mágicas e milagres a fim de evitar que, formalmente, venha a ficar com a maioria absoluta das ações do Citibank. Na verdade, se espera para ver qual será o truque do governo para não ficar com o Citi ou para fingir que não ficou.
Discutem-se coisas como converter o dinheiro que o governo colocou no Citi em ações ordinárias a preços camaradas. Isto é, o governo pagaria mais do que o preço atual e irrisório de mercado a fim de não ficar com ações demais. Mas alguém do público americano deverá notar que, deste modo, o governo Obama vai doar dinheiro do contribuinte para o Citi, seus acionistas e credores.
Na quarta-feira começam os “testes de estresse” aos quais o governo vai submeter as instituições financeiras. Em tese, vão checar se os bancos são capazes de resistir a novas rodadas de apodrecimento da economia e dos seus ativos. Caso não sejam capazes, as instituições “terão a oportunidade de, primeiro, procurarem fontes privadas de capital. Caso não consigam, o capital tampão provisório será colocado à disposição pelo governo”, segundo diz a nota liberada hoje pelo Tesouro, pelo Fed e três agências de regulação financeira dos EUA.
Bem, dá quase vontade de rir. Se um banco estiver para quebrar (se não “passar” no “teste de estresse”), qual agente privado vai colocar dinheiro lá?
Como serão tais testes de estresse? Qual o cenário econômico que será usado? Recessão profunda, de mais de 3%? De 1% e pouco, como estima o Fed? Qual o nível de desemprego e calotes? Ninguém sabe nada, e os testes podem ser truque também.
Segundo o “Financial Times”, os concorrentes menos podres estão preocupados com os privilégios que um Citi estatizado, ou quase, possa ter, como capital barato. Fazem lobby para limitar o raio de ação do Citi.
De resto, a que foi a maior seguradora do mundo, a AIG, estatizada em setembro de 2008 pelo governo dos EUA, está quebrando de novo _o pacote de socorro da seguradora começou com US$ 85 bilhões, passou a US$ 150 bilhões e agora deve ficar ainda maior. A AIG vai quebrar dentro do governo. Como a Merrill Lynch quebrou dentro do Bank of America.
Está o caos e a barbárie no sistema financeiro americano.
Escrito por Vinicius Torres Freire

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