terça-feira, 2 de junho de 2009

Pós-posts

Link para o recomeço -Junho

domingo, 10 de maio de 2009

sábado, 18 de abril de 2009

Coda

Terça-feira, 27 de julho de 2004 - CARLOS HEITOR CONY- A Faísca* Em geral, e ao contrário do presidente Lula, não aprecio comparações do futebol com a vida nacional e com a vida particular de cada um de nós. Contudo a vitória do Brasil contra a Argentina, no último domingo, pode ser aproveitada como uma boa metáfora do nosso destino comum e pessoal.Como vimos, o Brasil jogou mal o tempo todo. Tecnicamente, merecia ter perdido, parecia até mesmo um time desfibrado, bem distante do Brasil oficial e pentacampeão, merecedor do nome mais ou menos pejorativo de Brasil do B, ou seja, um Brasil de reservas.No entanto, nos minutos finais, tanto no primeiro como no segundo tempo, uma faísca eletrizou os nossos jogadores, que, de pangarés esfolados, transformaram-se em puros-sangues de raça e de fibra. O gol do empate final foi realmente uma centelha, parece que uns cinco ou seis jogadores nossos se embolaram com a defesa argentina e saiu o gol, límpido, classudo, apesar da confusão, que geralmente enfeia qualquer jogada.E vieram os pênaltis. Não gosto de decisão por pênaltis, parece roleta-russa, nem sempre faz justiça ao melhor. Os dois primeiros pênaltis perdidos pelos argentinos -e é aqui que eu queria chegar- revelaram o desconcerto, o "como é que pode?" que sempre provocamos quando conseguimos sair do atoleiro e damos aquele espetáculo que o Ary Barroso colocou em sua aquarela: "O Brasil verde que dá para o mundo o que admirar".São momentos raros, admito, mas consoladores. Temos tudo para dar certo, não apenas no futebol mas na vida em geral. O que precisamos, na verdade, é desses instantes mágicos, os "punti luminosi" de que falava Ezra Pound sobre a poesia.Em linhas gerais, o time presidido por Lula continua jogando mal. Pessoalmente, torço para que, num momento de confusão, brilhe uma faísca que nos ilumine e consagre.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Ronaldinho-O Diagnóstico

JUCA KFOURI* Ronaldinho, o outro*
. RONALDINHO GAÚCHO em 2004 e 2005, quando eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa, era, segundo José Miguel Wisnik, uma verdadeira antologia do futebol brasileiro."Ela dava o chapéu do Pelé, o toque do Romário, o calcanhar do Sócrates, a folha seca do Didi, as pedaladas do Robinho, o passe em concha do Ademir da Guia, enfim, era uma síntese de uma porção de craques", afirma o autor do brilhante, invejável e invejado "Remédio Veneno - O Futebol e o Brasil", livro editado pela Companhia das Letras, sucesso de público e crítica. Exagero do professor, ensaísta, músico e compositor, além de santista moldado pela areia das praias dos que viram Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe? Não. Em 2004/2005, de fato, Ronaldinho Gaúcho era tudo isso. A ponto de outro mestre, Tostão, admitir a hipótese de vê-lo, na Copa do Mundo que se aproximava, no nível de Pelé, de Mané Garrincha, de Diego Maradona. E talvez ninguém como Tostão para poder dizê-lo, não só porque jogou com Pelé e Mané como porque, ainda por cima, vê futebol e escreve sobre futebol de modo a despertar os mesmos sentimentos que Wisnik causa com seu já clássico "Remédio Veneno". E, se Tostão ousou na previsão que não se concretizou, porque a bola é impiedosa com quem a trata com soberba ou se imagina mais importante do que ela, diagnosticou, também com a precisão de doutor versado nas coisas da mente, o luto que se abateu sobre Ronaldinho desde a malfadada Copa da Alemanha, quase três anos atrás. Ronaldinho não digeriu até hoje aquela perda e não entendeu por que tudo escapou por seus dedos. Ele não deve nem mesmo saber quando foi que começou a jogar mais para os cinegrafistas e fotógrafos do que para seu time. Aqueles mesmo olhos incapazes de fitar o interlocutor numa simples conversa, mas que olhavam para um lado enquanto ele metia a bola no outro, perderam a naturalidade. E o que era gracioso, surpreendente e imarcável, passou a ser previsível, forçado e comum. O que foi sem que ninguém explicasse como era, deixou de ser, do mesmo modo, sem que houvesse uma explicação para o vazio. Vazio que deve inundar a alma do craque -há tão pouco tempo a apenas um degrau da imortalidade, mas hoje, ao cair das alturas, transformado só em mais um, miseravelmente descartável.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Gran Torino-O Diagnóstico

http://www.orm.com.br/blogdecinema/Kowalski não precisa se redimir. O espectador é que precisa se livrar de seus próprios preconceitos para enxergar através dos preconceitos de Kowalski e descobrir que ele, assim como o doutor House, é um homem bom. Essa inversão no melodrama de redenção já seria suficiente para recomendar o filme se um bom ator como Hugh Laurie, por exemplo, fizesse o papel de Kowalski. Mas 'Gran Torino' vai muito além do roteiro. É um filme de Clint Eastwood, o diretor, sobre a persona de Clint Eastwood, o ator.

Neymar-O Diagnóstico

Seus gestos são os de quem tem afinidade com a bola, ainda que ela o conheça há muito pouco tempo. Ainda não se deu conta de que para se aproximar da perfeição devemos ser simplesmente simples. http://www.cartacapital.com.br/app/coluna.jsp?a=2&a2=5&i=3853

O Passado da Esperança

Saudades do Futuro

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Reinaldo Azevedo e o Instante Luminoso

ROUCO POR TI
Pô, pessoal, eu sei que o jogo de ontem contra o São Paulo foi apenas o primeiro. Mas corintiano é assim mesmo: uma agonia de cada vez. E convenham: fui bem discreto. Huuummm... Os vizinhos talvez não endossassem essa minha afirmação. É, estou meio rouco. Rouco por ti, Corinthians! A Reinaldinha mais nova também está. Ela é ainda mais, como escreverei?, entusiasmada com o time do que eu. A Mais Velha e Dona Reinalda acham futebol uma bobagem. Durante o jogo, a primeira discutia com uma amiga da escola “a crise nos Bálcãs” (falo sério...), e a outra cuidava de vocês.Eu e a Mais Nova fazíamos escarcéu!Sem contar que eu aprecio muito a reiteração de um mito: quando o Corinthians está em campo, tomando emprestadas as palavras do Chacrinha, o jogo “só acaba quando termina”. Ontem, a crença de que “ainda dá” era puro pensamento mágico. E deu. Na vida, momentos assim são invulgares.
Por Reinaldo Azevedo

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Tostão e o Instante Luminoso

Depois do Mundial de 66, só se falava na decadência do estilo habilidoso do Brasil. Era exaltado o futebol força e objetivo dos europeus. Foi quando Nelson Rodrigues, de quem diziam não entender nada de futebol, escreveu sobre os "idiotas da objetividade".A seleção de 70 foi a união do talento individual com o coletivo, da improvisação com a organização tática, do espetáculo com a eficiência.Em 74, a Alemanha venceu, mas quem encantou foi a Holanda. Cruyff conta que, duas semanas antes da competição, decidiram adotar um esquema revolucionário, de marcação por pressão. Onde estava a bola, havia muitos holandeses. Defensores e atacantes se misturavam. Era a pelada organizada. A seleção brasileira de 70 ficou pronta também somente duas semanas antes da competição.Para se formar um bom e aplicado time, é preciso treinar bastante e por muito tempo. Para se fazer um time espetacular, nem sempre isso é necessário. Os grandes momentos, no futebol e na vida, costumam acontecer de repente, sem planejamento, em um piscar de olhos.Após 70 e até 94, o Brasil só teve uma grande seleção, a de 82, com Zico, Falcão, Cerezo, Júnior e outros craques. Ela é lembrada e adorada até hoje em todos os cantos do mundo. A seleção brasileira de 82, a da Hungria de 54 e a da Holanda de 74 desmentem o lugar-comum de que a história é sempre contada pelos vencedores.Após a derrota do Brasil em 82, os "idiotas da objetividade" voltaram a dizer que para vencer é preciso ser prático e jogar feio. Esses utilitários, de pensamentos operatórios, são numerosos, estão em toda parte, em todas as épocas, no futebol e em todas as profissões.A seleção campeã de 94 não empolgou, porém era um time organizado, forte na defesa e com um genial atacante (Romário), além de vários excelentes jogadores.Não esqueço o gol de Romário contra a Holanda. Ele recebeu um passe cruzado de Bebeto e ficou longe da bola. Se esticasse a perna, erraria o gol. Romário deu um salto, ficou com as duas pernas no ar e, com a direita, sem apoio, tocou no canto. Depois do jogo, eu e o querido mestre Armando Nogueira ficamos longo tempo vendo em detalhes o lance para tentar entender a genialidade de Romário.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Discreto Milagre-Coda

Chico Renato em si mesmo -Coda

JOÃO PEREIRA COUTINHO
NUNCA FUI amante de Beckett. Literariamente falando. Tive os meus momentos, como qualquer adolescente intelectual e pretensioso: lia as peças, tão feitas de silêncio, repetição e absurdo, e depois rabiscava qualquer coisa em imitação amadora. Com os anos, só o experimentalismo do irlandês ficou como prova de vitalidade criativa e perene. O resto, precisamente, é silêncio, repetição e absurdo.Mas um romance de Beckett, originalmente escrito em francês, ainda hoje continua a martelar os meus neurônios. O título é "Malone Meurt", qualquer coisa como "Malone está a morrer", e pretende ser a recordação palavrosa de um corpo moribundo que, nos momentos finais da vida, mergulha no passado, na conjectura e na efabulação. "Um mínimo de memória é indispensável para se viver deveras", diz o moribundo, como se o esforço de recordar fosse um gesto prometaico ante a iminência da morte. Chico Buarque lembra Beckett no seu quarto romance, "Leite Derramado" (Companhia das Letras, R$ 36, 200 págs.). O personagem do livro, Eulálio d'Assumpção, está em cama de hospital, sofrendo agonias de uma queda provavelmente fatal. E esse purgatório hospitalar permite ao personagem de Chico Buarque recordar, conjecturar e efabular com igual "tedium vitae". Eulálio, como o Malone de Beckett, não lamenta nada, não justifica nada, não defende nada: a sua biografia é como o seu corpo. Uma realidade envelhecida e decadente. Ele chegou ao fim da linha. O seu reino já não é deste mundo. Mas qual será o reino de Eulálio? Resposta: o reino da elite branca brasileira. O trisavô desembarcou no Brasil. Foi confidente de dona Maria, a louca. E Eulálio, o centenário Eulálio, assume-se como o último representante genuíno desse clã. Filha, netos, bisnetos e tataranetos converteram-se ou perderam-se na vulgaridade dos tempos modernos. Um dos descendentes, aliás, chega mesmo a namorar uma mocinha que ostenta um "Jesus Cristo", em letras góticas, tatuado nas proximidades de uma "bela bunda". Haverá pior? Seria fácil reduzir o personagem Eulálio a um mero clichê ideológico. Imagino até que Chico Buarque tenha sentido essa tentação: o autor nunca simpatizou com a elite branca brasileira, apesar de ser um dos seus mais genuínos produtos, e as nossas livrarias são pródigas em panfletos políticos travestidos de literatura. Felizmente para os leitores, "Leite Derramado" não é panfleto: a complexidade psicológica de Eulálio permite introduzir zonas cinzentas que conferem uma certa grandeza dramática ao personagem. Eulálio é esnobe, misógino, racista. Viver em edifício de apartamentos é, para ele, um pouco "promíscuo" (delicioso adjetivo). Ter um neto com feições negroides, um verdadeiro insulto aos Assumpção. Mas os valores de classe valem pouco quando outros se levantam. Uma das passagens mais notáveis de "Leite Derramado" acontece quando Eulálio, casado com Matilde, observa a mulher em dança febril e detecta uma certa vulgaridade nela. Matilde não pertence à sua classe. E, no entanto, não existe outra mulher que Eulálio mais deseje. Essa mistura de atração e repulsa define a vida de Eulálio. E, mesmo quando a mulher desaparece sem deixar rastro, é ainda com atração e repulsa que ele vai fabricando explicações sucessivas para o inexplicável. Que o mesmo é dizer: amando e odiando, com igual intensidade, um mero fantasma. "Leite Derramado" é a história de uma vida. Mas talvez seja mais correto afirmar que é a história de duas vidas, consumidas numa vida só: a vida de Eulálio, nascido em berço de ouro e condenado a fraldas e "camas rangedoras". Todos os homens têm o seu destino. O destino da mortalidade, certamente. Mas também um destino marcado pelas escolhas inevitáveis do sexo e do desejo. Por isso, não deixa de ser irônico que o último momento de saúde vivido por Eulálio seja também um momento com Matilde, ou apenas com a memória dela: uma memória que se materializa e personifica aos olhos de um velho pateticamente entumecido. Alguém dizia que as paixões tardias são as mais intensas. Chico Buarque discorda. Em "Leite Derramado", o seu melhor livro até o momento, intensas são as paixões primevas. As paixões que nunca nos abandonam. E que regressam sempre no final, como anjos da morte, prontas para nos levarem com elas.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Cinema baseado em Evidencias.Conceitos-chave:Eficacia,Efetividade e Eficiencia

A evidência na tela é a prova do gênio de Hawks: basta assistir a O Inventor da Mocidade para saber que é um filme brilhante. Alguns recusam-se a admiti-lo, no entanto; eles recusam a persuasão pelas evidências. Não pode haver outro motivo para que não o reconheçam.A obra de Hawks é igualmente dividida entre comédias e dramas – uma ambivalência notável. Ainda mais notável é a fusão desses elementos para que cada um, ao invés de danificar ao outro, sublinhe a reciprocidade: um afia o outro. A comédia jamais está ausente por muito tempo nos enredos mais dramáticos, e ela, longe de comprometer a sensação de tragédia, remove o fatalismo complacente para manter os eventos num equilíbrio perigoso, uma incerteza estimulante que colabora para a força do drama. O secretário de Scarface fala um inglês comicamente embolado, mas isso não o impede de ser baleado; nosso riso no decorrer de À Beira do Abismo é inseparável do receio do perigo; o clímax de Rio Vermelho, quando não estamos mais certos das nossos emoções, avaliando qual lado tomar e se devemos nos deleitar ou assustar, coloca nossos nervos em pânico e nos instala num estado tão atordoante e vertiginoso quanto o do equilibrista na corda-bamba cujo pé vacila sem escorregar, um sentimento tão inquietante quanto o término de um pesadelo.Enquanto a comédia confere à tragédia hawksiana sua efetividade, ela não consegue dissipar (não a tragédia; não vamos estragar nossos melhores argumentos ao ir longe demais) a forte impressão de uma existência em que nenhuma ação pode desatar-se da teia da responsabilidade. Poderíamos ser expostos a uma visão de vida mais amarga que essa? Tenho que confessar ser um tanto incapaz de aderir às risadas de uma sala lotada enquanto sou arrebitado pelas viravoltas da fábula (O Inventor da Mocidade) que retrata – alegre, lógica e impiedosamente – os decisivos estágios de degradação de uma inteligência superior.Não é um acaso que grupos semelhantes de intelectuais apareçam tanto em Bola de Fogo e O Monstro do Ártico. Hawks, porém, preocupa-se menos com a submissão do mundo à visão fria e enfadonha da mente científica que com o retrato das desgraças cômicas da inteligência. Hawks não está preocupado com a sátira ou a psicologia; para ele, as sociedades não significam mais que sentimentos; ao contrário de Capra ou McCarey, ele está exclusivamente interessado na aventura do intelecto. Se ele opõe o velho ao novo - o conhecimento humano acumulado do passado às formas degradadas da vida moderna (Bola de Fogo, A Canção Prometida), ou o homem à besta (Levada da Breca), ele se atém à mesma história – a intrusão do inumano, ou da manifestação mais crua de humanidade, na sociedade altamente civilizada. Em O Monstro do Ártico, a máscara finalmente cai: no confinado espaço do universo, alguns homens da ciência estão engalfinhados com uma criatura pior que o inumano, uma criatura do outro mundo; seus esforços pretendem enquadrá-la nos parâmetros lógicos do conhecimento humano.Mas, em O Inventor da Mocidade, o inimigo adentrou o próprio homem: o sutil veneno da fonte da juventude, a tentação do infantilismo. Esta sabemos há muito tempo ser uma das menos sutis astúcias do Mal – a um tempo na forma de cão de caça(hound), outrora na forma do macaco – quando enfrenta o homem de rara inteligência. E é a mais infeliz das ilusões que Hawks ataca com crueldade: a noção de que a adolescência e a infância são estados bárbaros dos quais somos resgatados pela educação. A criança é dificilmente distinguível do selvagem que a imita em suas brincadeiras: até o idoso mais distinto, depois de ingerir o precioso líquido, imita um chimpanzé com prazer. Pode-se encontrar nisso uma concepção clássica do homem, uma criatura cujo único trajeto para a grandeza reside na experiência e na maturidade; ao fim de seu percurso, sua avançada idade irá julgá-lo.Ainda pior que o infantilismo, degradação, ou decadência, no entanto, é a fascinação que essas tendências exercem na mesma inteligência que as percebe como más. O filme não é meramente uma história sobre essa fascinação; ele se coloca ao espectador como uma demonstração do poder da fascinação. Igualmente, qualquer um que critique essa tendência deve primeiramente submeter-se a ela.
Os macacos, os índios, o peixinho dourado não são mais que disfarce para a obsessão de Hawks com o primitivismo, que também ganha expressão nos selvagens ritmos da música tom-tom, na doce estupidez de Marilyn Monroe (o monstro de feminilidade que o figurinista quase deformou), ou no momento em que a envelhecida bacante Ginger Rogers retoma a adolescência e suas rugas esmaecem. A euforia instintiva das ações das personagens confere uma qualidade lírica para a feiúra e a asneira, uma densidade de expressão que eleva tudo à abstração: a fascinação por tudo isso confere beleza à respectiva metamorfose. Poder-se-ia aplicar a palavra “expressionista” para a maestria com que Cary Grant desdobra seus gestos em símbolos; olhando a cena em que ele se disfarça de índio, é impossível não se lembrar do famoso plano de O Anjo Azul em que Jannings olha o seu rosto distorcido. Não é de maneira alguma fácil comparar esses dois contos da ruína: recordamos como os temas de danação e maldição no cinema alemão impuseram a mesma variação rigorosa do agradável para o medonho.Do close-up do chimpanzé ao momento em que a fralda escorrega do Cary Grant bebê, a cabeça do espectador nada em constante turbilhão de imodéstia e impropriedade. E o que é essa sensação se não a mistura de medo, censura – e fascinação?
O encantamento pelo instintivo, a renúncia para as forças terrenas primitivas, a maldade, a feiúra, a estupidez – todos os atributos do Diabo são, nessas comédias em que a própria alma sofre a tentação da bestialidade, tortuosamente combinados com a lógica in extremis; o ponto mais afiado da inteligência é revertido contra si. A Noiva Era Ele toma como tema simplesmente a impossibilidade de encontrar um lugar para dormir e, em seguida, o prolonga até os extremos do aviltamento e da desmoralização.Hawks sabe melhor que qualquer outro que a arte deve ir aos extremos, mesmo os extremos da sordidez, porque essa é a fonte de comédia. Ele nunca teme usar bizarras guinadas narrativas, uma vez estabelecendo que elas são possíveis. Ele não tenta confundir as inclinações vulgares do espectador; ele as afirma ao levá-las um passo adiante. Isso é também o gênio de Molière: suas loucas relações lógicas são capazes de fazer o riso impregnar a garganta. É também o gênio de Murnau – a famosa cena com Dame Martha em seu excelente Tartufo e várias seqüências de A Última Gargalhada ainda são modelos de cinema molieresquiano.Hawks é o diretor da inteligência e da precisão, mas é também um maço de forças negras e fascinações estranhas; ele é um espírito teutônico, atraído por surtos de furor controlado que geram uma cadeia infinita de conseqüências. A existência de sua continuidade é a manifestação do Destino. Os heróis demonstram isso não tanto nos sentimentos, como nas ações, observadas por Hawks com meticulosidade e paixão. É as ações que ele filma, meditando sobre o poder autônomo da aparência. Não nos preocupamos com os pensamentos de John Wayne enquanto ele anda em direção a Montgomery Clift ao final de Rio Vermelho, ou nos pensamentos de Bogart enquanto ele bate em alguém: nossa atenção é direcionada unicamente para a precisão de cada passo – o exato ritmo do andar, de cada golpe - e o gradual colapso do corpo exaurido.
Mas ao mesmo tempo, Hawks exemplifica as mais altas qualidades do cinema americano: ele é o único diretor americano que sabe como delinear a moral. Sua maravilhosa fusão de ação e moralidade é provavelmente o segredo do gênio. Não é a idéia o que fascina em um filme de Hawks, mas a eficácia. A ação prende nossa atenção não tanto pela beleza intrínseca quanto por sua eficiência e pelos mecanismos internos que regem seu universo.Uma arte dessas exige uma honestidade básica, e o uso que Hawks faz do tempo e do espaço é testemunha disso – sem flashbacks, sem elipses; a regra é continuidade. Nenhum personagem desaparece sem que o sigamos, nada surpreende o herói se não nos surpreender ao mesmo tempo. Parece haver uma lei por trás da ação e edição de Hawks, uma lei biológica, porém, como a que regula a vida de qualquer ser vivo: cada cena tem uma beleza funcional, como um pescoço ou um tornozelo. A deslizante e regular sucessão de planos têm o ritmo da pulsação sangüínea e o filme todo é como um belíssimo corpo mantido vivo por uma respiração profunda e resiliente.Essa obsessão pela continuidade impõe aos filmes de Hawks a impressão de monotonia, do tipo geralmente associado à idéia de uma jornada a ser cumprida ou um curso a ser percorrido (Águias Amaricanas, Rio Vermelho), porque tudo é apreendido em conexão com todo o resto, tempo ao espaço e espaço ao tempo. Daí em filmes predominantemente cômicos (Uma Aventura na Martinica, À Beira do Abismo), os personagens são confinados em poucos cenários e se locomovem um tanto desgraçadamente dentro deles. Começamos a sentir a gravidade de cada movimento que fazem e somos incapazes de escapar à sua presença. Mas o drama hawksiano é sempre expresso em noções espaciais e as variações nos cenários são acompanhadas das variações temporais: seja no drama de Scarface, cujo reino encolhe da cidade que outrora governava para o quarto em que é finalmente enclausurado, ou o dos cientistas que não se atrevem a deixar a cabana por temerem a coisa (O Monstro do Ártico); dos pilotos de Paraíso Infernal, presos na sua estação pela névoa e conseguindo escapar para as montanhas de tempos em tempos, assim como Bogart (Uma Aventura na Martinica) escapa para o mar partindo do hotel que ele ronda impotentemente, entre o porão e seu quarto; mesmo quando esses temas são tornados burlescos em Bola de Fogo, com o gramático saindo de sua biblioteca hermética para encarar os perigos da cidade, ou em O Inventor da Mocidade, em que os passeios dos personagens indiciam a reversão para a infância (A Noiva Era Ele trabalha o motivo da jornada de outra forma), sempre os heróis caminham em direção ao seu destino.A monotonia é apenas uma fachada. Sob ela, sentimentos estão amadurecendo lentamente, evoluindo passo a passo rumo ao clímax violento. Hawks utiliza lassidão como dispositivo dramático – para transmitir a exasperação dos homens obrigados a se reter por duas horas, pacientemente contendo raiva, ódio, ou amor diante dos nossos olhos para repentinamente libertá-los, como baterias lentamente carregadas que eventualmente soltam uma faísca. A raiva dos personagens é elevada pelo habitual sangue-frio; a fachada calma é impregnada da emoção, com o oculto tremer de nervos e almas – até que o copo transborda. Um filme de Hawks freqüentemente possui a mesma sensação da agonizante espera da queda de uma gota d’água.
As comédias mostram outro lado desse princípio da monotonia. O andamento da ação é substituído pela repetição, como a retórica de Raymond Roussel substituindo a de Péguy; as mesmas ações, eternamente recorrendo, que Hawks desenvolve com a persistência de um maníaco e a paciência de um obcecado, repentinamente embaralham, como que à mercê de um capcioso redemoinho.Qual outro homem de gênio, ainda que estivesse mais obcecado pela continuidade, poderia ser mais apaixonadamente preocupado com as conseqüências das ações dos homens, ou da relação dessas ações uma com a outra? A maneira com que elas influenciam, repelem ou atraem uma à outra se torna um mundo unificado e coerente, um universo newtoniano cujos princípios governantes são a lei universal da gravidade e a profunda convicção da gravidade da existência. Ações humanas são medidas e pesadas por um diretor-mestre, preocupado com as responsabilidades do homem.A medida dos filmes de Hawks é a inteligência, mas a inteligência pragmática, aplicada diretamente para o mundo físico, uma inteligência que retira sua eficácia do ponto de vista exato de uma profissão ou de alguma forma de atividade humana atrelada ao mundo e ansiosa por conquista. Marlowe em À Beira do Abismo pratica a profissão assim como o cientista ou o aviador; e quando Bogart aluga seu barco em Uma Aventura na Martinica, ele mal olha para o mar: está mais interessado na beleza de seus passageiros que na beleza das ondas. Cada rio existe para ser cruzado, cada rebanho é feito para ser engordado e vendido pelo preço mais alto. E as mulheres, não obstante sedutoras, por mais que o herói se afeiçoe a elas, devem juntar-se a ele na luta.É impossível evocar adequadamente Uma Aventura na Martinica sem imediatamente lembrar a batalha com o peixe no começo do filme. O universo não pode ser conquistado sem a luta, e a luta é natural para os heróis hawksianos: briga corpo-a-corpo. Que entendimento mais próximo do outro poderíamos esperar, se não uma batalha vigorosa como essa? Assim, o amor existe mesmo onde há oposição perpétua; é um duelo amargo cujos perigos constantes são ignorados por homens intoxicados pela paixão (À Beira do Abismo, Rio Vermelho). Da competição surge a estima - essa palavra admirável englobando sabedoria, apreciação e simpatia: o oponente vira um parceiro. O herói sente repulsa se tiver que enfrentar um inimigo que se recusa a lutar; Marlowe, tomado por amargura súbita, precipita os eventos para apressar o clímax de seu caso. Maturidade é a marca da qualidade desses homens meditativos, heróis de um mundo adulto, quase sempre exclusivamente masculino, cuja tragédia está nos relacionamentos pessoais; comédia advém da intrusão e mescla de elementos alienígenas, ou objetos mecânicos que lhes tiram a livre iniciativa – aquela liberdade de decisão pela qual o homem pode expressar-se e afirmar sua existência, assim como um criador faz no ato de criação.
Não quero parecer estar elogiando Hawks por ele ser um “gênio alienado do seu tempo”, mas é a obviedade de sua modernidade que me impede de detratá-la. Prefiro, ao invés disso, apontar como, mesmo ocasionalmente levado ao ridículo ou ao absurdo, Hawks concentra-se primeiramente no cheiro e na sensação da realidade, conferindo-lhe uma pouco usual e profundamente oculta grandeza e nobreza; como Hawks dá à sensibilidade moderna a consciência clássica. O pai de Rio Vermelho e Paraíso Infernal não é outro senão Corneille; ambigüidade e complexidade são compatíveis apenas com os sentimentos mais nobres, que alguns ainda consideram “tediosos”, mesmo que não sejam esses sentimentos os primeiros a serem exauridos, mas antes a natureza bárbara e mutável das almas brutas – eis o motivo de romances modernos serem tão chatos.
Finalmente, como poderia omitir menção às maravilhosas cenas de abertura hawksianas em que o herói se estabelece firme e tranqüilamente? Sem preliminares, sem dispositivos expositores: uma porta abre e lá está ele em sua primeira tomada. A conversação avança e silenciosamente nos familiariza com seu ritmo pessoal; depois de esbarrar nele assim, não podemos deixar de ficar a seu lado. Somos seus companheiros ao longo da jornada enquanto ela se desenrola com tanta certeza e regularidade quanto a película que atravessa o projetor. O herói move-se com mesma leveza e constância do montanhista que inicia com passo firme e o mantém nas trilhas mais árduas, inclusive até o final da marcha mais longa do dia.Partindo desses primeiros indícios, não estamos apenas certos de que os heróis nunca nos abandonarão, mas também sabemos que eles se agarrarão às suas promessas para além de qualquer limite, e nunca hesitarão ou desistirão: ninguém consegue parar sua maravilhosa obstinação e tenacidade. Uma vez estabelecidos, eles irão até o esgotamento das forças, levarão as promessas que fizeram às conclusões lógicas, seja lá quais forem elas. O que é iniciado precisa ser encerrado. Não importa que os heróis sejam quase sempre empurrados contra seus desejos: ao se provarem a eles mesmos, ao atingir seus fins, eles vencem o direito de serem livres e a honra de se chamarem homens. Para eles, lógica não é uma fria atividade intelectual, mas a prova de que o corpo é um todo coerente, seguindo harmoniosamente as conseqüências, em ato de lealdade a si. O vigor da força de vontade dos heróis é a garantia da unidade entre homem e espírito em nome daquilo que, duplamente, justifica a existência e lhe confere seu sentido mais elevado.Se é verdade que somos fascinados por extremos, por tudo que é ousado e excessivo, e que achamos grandeza na falta de moderação – então é dedutível que deveríamos nos intrigar com o choque dos extremos, porque estes agregam a precisão intelectual das abstrações e a magia elementar dos grandes impulsos mundanos, conectando tempestades com equações em afirmação da vida. A beleza do filme de Hawks advém desse tipo de afirmação, persistente e serena, sem remorsos e sobressaltos. É uma beleza que manifesta a existência pelo respirar e o movimento pelo andar. O que é, é. (That which is, is).
Tradução de francês para inglês por Russel Campbell e Marvin Pister, adaptado da tradução de Adrian Brine. Tradução de inglês para português de Nikola Matevski.
http://dicionariosdecinema.blogspot.com/

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Discreto Milagre

Gran Torino

A eternidade é um instante generoso.

O Alienista do País das Maravilhas

CARLOS HEITOR CONY-Um caso pessoal
RIO DE JANEIRO - Passou discretamente pela mídia o 45º aniversário do golpe de 64. Houve reunião em alguns centros militares, muita troca de mensagens eletrônicas. Aos poucos, os herdeiros ou sucessores daquele movimento começam a expor "o outro lado" da questão, que, em geral, continua contada apenas pelo lado dos vencidos, mais tarde vencedores no plano da história, bem verdade que à custa de milhares de vítimas.Um dado importante vem sendo destacado nas manifestações que procuram justificar o regime de arbítrio instaurado na movediça data de março/abril daquele ano. A sociedade dita civil apoiou com entusiasmo o golpe, houve euforia nas ruas, nas igrejas e na totalidade da mídia. No dia seguinte à tomada do poder pelos militares, publiquei uma crônica no finado "Correio da Manhã" em que gozava o aparato bélico que ocupou o último reduto da legalidade, o forte de Copacabana, onde se esperava uma reação contra os golpistas.O jornal havia combatido com violência os últimos dias do governo de João Goulart. Quando cheguei à redação naquele dia, todos esperavam a minha demissão. Carlos Drummond de Andrade, que estivera comigo na véspera, assistindo à rendição do forte, ligou-me preocupado, pensando que eu já estava no olho da rua -abrigo tradicional dos desagradáveis.Como não houve demissão, no dia seguinte escrevi outra crônica, bem mais violenta, sem tom de gozação. Pouco depois, fui processado pelo ministro da Guerra, expulso como mau elemento do sindicato dos jornalistas, tive de pedir demissão. Estava contra a opinião pública, da qual a imprensa era a porta-voz.O caso pessoal dá razão ao reparo que os militares estão fazendo sobre 1964. Em seu início, o movimento teve o apoio entusiasta da mídia e da sociedade.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

domingo, 29 de março de 2009

O Melhor Texto de Todos os Tempos

Durante as minhas vidas (atividades), percebi que os grandes talentos são os que conhecem profundamente o básico, enxergam o óbvio e fazem muito bem as coisas simples e essenciais. Além da técnica de cada profissão, eles possuem conhecimentos mais amplos, de outras áreas, e uma maior capacidade de observar, sintetizar, decidir e criar, no momento certo. A maior parte dessas qualidades não se aprende nas escolas.Quando era professor de medicina, havia os alunos que só se interessavam pelas exceções e pelo que não era importante e os que aprendiam bem todos os detalhes básicos -estes últimos iriam se tornar excelentes profissionais.Mesmo os gênios, que fogem à rotina e ao raciocínio lógico, são os que tornam simples as coisas complexas. Não se pode banalizar também a palavra e chamar todos os craques de gênio. Esses são raríssimos.Na adolescência, assisti a uma partida do Santos. Pelé e Coutinho trocavam passes até sem um olhar para o outro. Após uma tabela, Pelé jogou a bola entre as pernas de um zagueiro, encobriu o goleiro e fez o gol.Escutou-se um "ooohh" de espanto na arquibancada. Diante dos movimentos do zagueiro e do posicionamento do goleiro, Pelé fez com muita técnica, simplesmente, o que se deveria fazer e poucos fazem. Depois que fez, parecia fácil. Nisso estava a sua genialidade.Os grandes treinadores são também os que fazem as coisas simples e essenciais. Alguns seguem também a intuição e inovam e arriscam, no momento certo -estes são os mais criativos e os melhores.Há muitos treinadores confusos ou inexperientes, que gostam de complicar. É mais fácil.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Paulo Francis e a Vida

(O Globo, 11/01/96) - Amor de... Sempre fica. É a explicação mais óbvia da paixão de Hannah Arendt por Martin Heidegger, de uma atraente aluna, virgem de 18 anos, pelo seu professor "feiticeiro", intelectualmente, de 35 anos, Heidegger, o filósofo que consolidou a filosofia existencial, nas pegadas de Kierkegaard. Desde Kant não se acreditava numa filosofia que fosse centrada na criatura humana, porque Kant demonstrou a incompatibilidade do nosso ser com o mundo material. Heidegger tentou restabelecer o "eu", como protagonista. Foi nazista, mas não há na sua obra uma única linha de racismo biológico, nota George Steiner no "Times Literary Supplement". Nazismo para ele era uma volta às raízes naturais do homem antes que fossem extirpadas pelo pensamento científico e tecnológico, este principalmente, que Heidegger acha que destruirá a civilização. Uma bobagem, um "nazismo particular", na frase precisa de seu inquisidor francês, em 1945, e que Arendt, judia, resolveu relevar, em parte pela referida paixão, em parte porque é profunda admiradora da filosofia de Heidegger (seu melhor livro, "A condição humana", é influenciado por "Ser e existir", a obra-prima incompleta de Heidegger). Elzbieta Ettinger, uma acadêmica suburbana, escreveu um livro, "Hannah Arendt e Martin Heidegger", cujo principal interesse é que conseguiu autorização dos herdeiros de Arendt para citar suas cartas a Heidegger e de parafrasear as de Heidegger a ela. Só cita o masoquismo sexual servil de Arendt, difamando-a. A história é a que contei acima. O resto é besteira."As grandes paixões são raras como as obras-primas." Balzac.
(O Globo, 18/02/96) - EUA - Deus - Um novo livro de Richard Swinburne, "Existe um Deus?", 144 págs., 7,99 libras, Oxford University Press. Swinburne é um catedrático de filosofia e religião cristã em Oxford. Foi resenhado no "Sunday Times" de 4 de fevereiro por Richard Dawkins, um catedrático de Entendimento Público da Ciência, disciplina e cadeira recem-criadas em Oxford.Dawkins é um materialista radical. Sua veemência é curiosa. Há muito baixo religiosismo hoje, do "bispo" Macedo aos evangélicos nos EUA, mas religião como tema de discussão intelectual, à Peguy, Maurois, Maritain, et. all está em ponto morto. Como disse Graham Greene, em "A burnt-out case"’, qualquer secundarista de 16 anos desprova cientificamente a existência de Deus.Swinburne, segundo Dawkins, resolve provar cientificamente a existência de Deus. É que haveria bilhões de elétrons, em interligação complexíssima, mas privando das mesmas características desde o século XIX, e a única maneira de fazer sentido dessa diversidade é por meio de um deus, que, ao contrário dos elétrons, é uma substância só. Esse argumento é o mesmo de Santo Tomás de Aquino no século XIII, o da Primeira Causa, que geraria todo movimento. Bertrand Russel postulou em resposta, por que não o movimento permanente.Creio no absurdo - Religião se discute no argumento da fé, de São Paulo a Santo Agostinho, a Pascal, a Karl Barth. Este resume no seu "A epístola aos romanos", de 1918, a posição religiosa. Deus seria distante, indiferente, inacessível ao ser humano. Concederia a graça divina a alguns, desconhecendo outros. É preciso ter fé. São Paulo deixa isso claro na "Epístola aos romanos", que Barth analisa em 500 páginas, parágrafo por parágrafo, obra-prima de exegese. Santo Agostinho, Pascal, Calvino, com diferenças formais, também eram crentes da predestinação. Os primeiros romances de Graham Greene, como "Brighton rock", são fundamentados em predestinação. O mundo é um inferno de que só a graça divina pode nos salvar. A graça, nota Barth, é arbitrariamente concedida. John Updike fez, confessamente, sua cabeça com Barth, o que aparece em sua obra-prima, "A month of Sundays", inédito no Brasil. É possível até situar o existencialismo de Kierkegaard e Heiddeger, nessa hipótese, que permeia o pensamento cristão, ainda que recusado oficialmente pelas igrejas principais. Dawkins responderia com Russell-Popper. Mas quem lhe dá certeza de que mais cul-de-sacs do que Dawkins concede.O homem se sabe finito, prisioneiro da natureza que floresce e morre, mas sua consciência lhe fala de maneira diferente. Basta projetar o argumento em quem nos enriqueceu a vida e morreu. Para Dawkins a luminosidade do seu ídolo, Bertrand Russell, foi fechada com e como um caixão? Deve ser assim, mas permanece em muitos de nós a dúvida.

A Razão e a Loucura do Mercado

NIVALDO CORDEIRO: um espectador engajado







A CRISE POR PAUL KRUGMAN
25 de março de 2009

No artigo publicado no New York Times e reproduzido na edição de hoje do Estadão (“Política financeira do desespero”) o laureado economista se coloca contra o plano trilionário ontem anunciado por Obama, que basicamente está sintetizado na fórmula "cash for trash" (dinheiro por lixo), ou seja, o governo Obama deixa tudo como está e simplesmente faz o Tesouro perder dinheiro pela compra dos ativos ditos “tóxicos” em poder dos bancos.

Nas palavras de Kurgman: “É mais do que uma decepção. Na realidade, isso me enche de desespero. Afinal, acabamos de passar pela tempestade provocada pelas bonificações pagas pela AIG aos seus executivos. Ao mesmo tempo, o governo não conseguiu dirimir as indagações a respeito do que os bancos estão fazendo com o dinheiro dos contribuintes”.

Duas coisas são importantes. Krugman deu-se conta da enormidade da gravidade da crise, o que é positivo, pois sua voz é ouvida pelos decisores do governo Obama. Mas, infelizmente, se Krugman acerta no diagnóstico, erra dramaticamente no remédio que propõe para a superação da crise. Em artigo anterior eu sintetizei que basicamente existem duas maneiras de compreender os fatos econômicos e Krugman infelizmente está do lado errado do caminho.

O laureado economista aponta corretamente o grande engano do governo Obama: “E agora Obama aparentemente montou um plano financeiro que, em essência, pressupõe que os bancos são fundamentalmente sadios e que os banqueiros sabem o que estão fazendo. É como se o presidente estivesse determinado a confirmar a crescente percepção de que ele e sua equipe econômica não têm senso de realidade, que sua visão econômica está obnubilada por vínculos excessivamente estreitos com Wall Street. Quando Obama se der conta de que precisa mudar de curso, seu capital político talvez já tenha desaparecido”.

Obviamente que os bancos estão quebrados, e não sadios, e estão deixando de desempenhar suas funções. Sua constatação é precisa. Pena que não tira dela os corolários lógicos. Se os bancos estão quebrados, fechem, deixem que outros tomem o seu lugar. Krugman discorda em limpar com dinheiro público os ativos insolventes dos bancos, mas em seu lugar quer fazer algo ainda pior e moralmente condenável: quer que a propriedade dos bancos passe ao Estado. Ora, essa varinha mágica não vai funcionar. Fazer o pagador de impostos assumir o ônus da irresponsabilidade dos banqueiros, por qualquer via, é imoral e é tecnicamente imprudente. Não servirá para combater sequer os sintomas da crise, quanto mais as suas raízes.

A única maneira técnica e moralmente correta de combater a crise é deixar as coisas se ajustarem via mercado. Quem quebrou, quebrou, ponto final. Argumentos de tecnocratas apocalípticos, que querem ajeitar as coisas agigantando o Estado não devem ser tolerados. É erro grave. O erro de Krugman está sintetizado no seguinte argumento: “Existe um procedimento consagrado pela prática para tratar dos efeitos de uma crise financeira abrangente: o governo assegura a confiança no sistema garantindo muitas dívidas dos bancos. E, ao mesmo tempo, assume o controle temporário dos bancos, para limpar seus livros contábeis”.

Procedimento consagrado uma ova! Sacerdotes do deus-Estado sempre aproveitam as crises cíclicas para elevar o tamanho da Besta Estatal e o que Krugman faz aqui é precisamente isso, receitar mais do mesmo veneno que está na raiz da crise, o gigantismo do Estado. É preciso repudiar com toda a força esse argumento. É chegada a hora do combate ao Estado Total. Gente como Krugman não poder ser levada a sério. É preciso cortar o mal pela raiz, reduzir o Estado, e não se fará isso estatizando o sistema bancário.

Krugman é daquele tipo de louco da anedota, com comportamento normal que, ao final da conversa inteligente e bem informada, afirma ao interlocutor ser o próprio Deus encarnado e que tem a salvação do mundo nas mãos. Está na hora de se pôr esses embusteiros no devido lugar. É hora de se tomar a defesa do livre mercado, a única solução verdadeira para a grave crise que está a ameaçar a humanidade.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Mestre e Gafanhoto 3

Quinta-feira, 19 de março de 2009 CARLOS HEITOR CONY
- Cultivo abominável admiração por personagens polêmicos, desde que inofensivos. Clodovil Hernandes estava entre eles. Não entendo de política e muito menos de moda, mas acompanhei a sua vida profissional com interesse, achando que ele sabia fazer um gênero que lhe causou críticas e insultos, mas lhe deu a popularidade responsável pela exuberante votação que obteve para a Câmara de Deputados.Apesar de admirá-lo, só estive com ele pessoalmente por ocasião da pesquisa que realizava para produzir a novela "Dona Beja", na Rede Manchete, da qual era superintendente da teledramaturgia. Clodovil havia participado de um programa sobre a vida da heroína mineira. Herval Rossano, que seria o diretor, apresentou-nos e fiquei deslumbrado com o conhecimento que ele tinha sobre a personagem.Até então, baseara-me em dois livros sobre o assunto, o de Thomas Leonardos e o de Agripa de Vasconcelos, este último autor de clássicos sobre os grandes mitos de Minas Gerais, como Chico Rei e outros.Clodovil revelou cultura não apenas sobre a vida de Dona Beja, mas sobre a virada do século 18 para o 19, incluindo a tentativa da criação do Estado do Triângulo Mineiro, que colocou aquela Província em litígio com a corte de dom João 6º.Deu informações sobre cenários, vestuários e a intriga em si, inclu- sive a cena em que Dona Beja, vivida por Maitê Proença, dá uma de Lady Godiva, passeando nua em cima de um cavalo na noite mágica de Araxá.Como deputado, criou alguns casos próprios de seu temperamento, mas deixou projetos interessantes, obrigando empresas a financiar exames precoces de câncer nos empregados acima de certa idade, e um outro tratando da adoção de crianças. Para o tipo que foi, dou-lhe nota dez.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Os Ultimos Genios do Mundo-Coda

"Gran Torino se desdobra de forma muito simples, em relação ao arco de Walt: veterano de guerra preconceituoso mas de coração amanteigado se vê numa situação em que precisa repensar sua visão de mundo. O que o filme tem de sofisticado (e esse é o grande talento do Eastwood cineasta, herança dos mestres como John Ford) é que só parece simples" -Marcelo Hessel*****"Conduzindo com a sobriedade de sempre, Clint parece querer chegar aos valores simples e isso pede uma mise-en-scène depurada".-Zanin******"E, a partir daí, do lugar comum, é que surge a grande força de Gran Torino. O filme se ergue da simplicidade e da sutileza".-Filmes do Chico****** "Só os gênios conhecem a simplicidade"-Tostão

Chico Renato em si mesmo 3

http://blog.estadao.com.br/blog/zanin/18.03.09
Budapeste: Chico, o boleiro e o escritor
por Luiz ZaninAuthor->prefered_name() -->, Seção: Livros 14:31:58.
Leio Budapeste, o romance de Chico Buarque, por razões profissionais e com considerável atraso. Mas, afinal, os livros não morrem, não é? E me penintencio por não tê-lo lido antes porque é de fato muito bom e já estou no aguardo da adaptação para o cinema, feita por Walter Carvalho, da qual já vi o (promissor) trailer.
Mas não é sobre isso que quero falar agora. É que, lá pelas tantas, um trecho do livro me chamou a atenção de maneira particular:
“Dispondo de largo tempo ocioso, Puskás Sándor passara a frequentar a biblioteca, onde gozava de crescente prestígio. E nas sessões públicas de sábado, se sentava a mesa entre celebridades como o prosador Hidegkuti e o poeta Kocsis Ferenc, nos bastidores era cumprimentado mesmo pelo esquivo Sr....”
Qualquer um que conheça a história do futebol mundial tem familiaridade com os nomes de Puskas, Hidegkuti e Kocsis – os três da mitológica seleção húngara que, favorita na Copa de 1954, acabou perdendo da Alemanha no jogo final. Isso, depois de despachar a seleção brasileira. Chico adora futebol, como se sabe. Tem um time, o Politheama, e promove sempre jogos. Torce para o Fluminense e tem como ídolo Pagão, centroavante que jogou em vários clubes, mas tornou-se lenda no Santos Futebol Clube.
Esse trecho é a piscadela do autor/narrador para o leitor. E vice-versa.

Um Genio de Um Mundo Chamado Piaui 2

Os Ultimos Genios do Mundo 5

Os Ultimos Genios do Mundo 4

quarta-feira, 18 de março de 2009

Mestre e Gafanhoto 2

CARLOS HEITOR CONY-Rio de Janeiro-10/03/2009- Comunhão e excomunhão
- Não vejo motivo para tanta e tamanha repercussão para o caso do arcebispo de Olinda e Recife ter usado um artigo do Código Canônico, que rege a Igreja Católica, aplicando a excomunhão para os envolvidos no aborto de uma menina de 9 anos estuprada pelo padrasto.Excomunhão, como o nome está dizendo, é uma exclusão das graças espirituais da redenção cristã e do acesso aos sacramentos, como o batismo, a confissão, a eucaristia, o matrimônio etc.Trata-se de uma pena que só atinge os fiéis daquele culto. Não estou seguro das estatísticas, mas acho que quatro quintos da humanidade não professam o catolicismo romano, daí que nada têm a temer do castigo. Para um budista, um judeu, um protestante ou um evangélico das muitas seitas existentes, os muçulmanos, os espíritas e os ateus convictos nada têm a temer da excomunhão de uma comunhão da qual não fazem parte.Há, contudo, uma imensa legião de católicos censitários, que se declaram como tal quando indagados formalmente, mas que nem sabem o que isso representa. É um catolicismo social, reduzido a missas de sétimo dia, a casamentos na igreja, a batizados festivos e até a festivas primeiras comunhões, dessas que dão direito a vestidos de noiva para as comungantes.Para esses, a liberdade individual de pensar é um direito do qual não abrem mão. Fazem uma triagem da doutrina católica, aceitando isso, mas negando aquilo. Editam a sua própria religião. O crente oferece sua liberdade de pensar à fé que professa e se obriga a respeitá-la, a viver de acordo com as suas regras. Caso contrário, ele se coloca fora da comunhão dos seus fiéis. Lutero era frade, não aceitou a venda de indulgências e deu o fora, criando a Reforma. Foi excomungado. E daí?

domingo, 15 de março de 2009

Os Ultimos Genios do Mundo 3

*Tostão*
Os que gostam de futebol, atuais e futuros jornalistas esportivos, deveriam refletir sobre as opiniões de Valdano
JORGE Valdano, atacante campeão mundial pela Argentina em 1986, ex-treinador e ex-dirigente, comentarista esportivo, pensador do futebol, deu uma bela entrevista à ESPN Brasil, no programa "Bola da Vez".Valdano escreve muito bem e se expressa ainda melhor. Disse que é autodidata, já que estudou somente até o primeiro ano da faculdade de direito. Além de sua experiência no futebol, Valdano afirmou que aprendeu muito com os livros e com seus mestres. Teve o hábito e a sabedoria de escutar, de olhar para fora.Muitos só olham para dentro. Não escutam. Só falam. E ainda posam de humildes.Valdano afirmou que o gol de Maradona na Copa de 1986, considerado o mais belo de todos os mundiais, foi um mal-entendido. Após a partida, Maradona contou a ele que tentou passar a bola várias vezes para um companheiro e sempre surgia um inglês à sua frente. Tinha de driblá-los, um a um, até driblar o goleiro e fazer o gol.Os grandes momentos, capazes de mudar o resultado de um jogo ou a história, acontecem sem planejamento. O acaso é isso. Não é sorte nem mistério nem milagre. É um mal-entendido.
*************************************************************************************
FOLHA - Muitos de seus filmes mostram uma sociedade em declínio moral. Em "Gran Torino", há também a decadência econômica. Isso reflete o espírito dos EUA hoje?*CLINT EASTWOOD* - De certa forma, sim. Principalmente da região de Detroit, onde a indústria automobilística, antes símbolo do país e que hoje produz carros que ninguém mais quer, espera ser resgatada pelo governo. É um pouco sobre essa região em depressão, de fábricas fechadas e desemprego."Gran Torino" está no meio disso tudo, porque Walt Kowalski é um aposentado com problemas ligados a pessoas de dentro e de fora de seu círculo social. Muitos de seus amigos e contemporâneos estão mortos.E ele tem problemas com a igreja, com sua família, e seus preconceitos o colocam em choque com a vizinhança. Até que ele percebe que esses vizinhos asiáticos são mais voltados para a família do que ele é.
FOLHA - O contraste entre valores ocidentais e orientais foi algo que o atraiu no roteiro de Nick Schenk?*CLINT* - Sim. Gosto desse espírito de Kowalski, de homem obstinado. E também do fato de ele conseguir mudar, aprender algo. É isso que o filme resume: não importa a idade, sempre há algo a aprender sobre a vida, as pessoas e tolerância.

sábado, 14 de março de 2009

Realidade e Sonho 2

JOSÉ GERALDO COUTO

HÁ QUEM goste de futebol e há quem goste de celebridades. Ronaldo se desdobra em dois para atender a esses dois públicos.Os que buscam avidamente o Ronaldo superstar não têm do que se queixar. Há uma overdose dele na mídia, em especial na Rede Globo, que parece querer espremer ao máximo o sumo que o astro pode lhe dar, em termos de audiência e ostentação de poder. "Globo Esporte", "Altas Horas", "Caldeirão do Huck", em toda parte está o gorducho simpático, que só nega (sonega?) o sorriso aos repórteres de outros canais. Mas quem vibra com o Ronaldo craque de bola também está satisfeito. Em campo ele não só vem jogando bem como tem sido decisivo para o time. Mesmo distante de sua forma ideal, está bem acima da média do futebol praticado hoje por aqui. Como todos os amantes do jogo da bola, também me empolguei e me emocionei com a volta por cima de Ronaldo. Os muito céticos dirão que as zagas do Palmeiras e do São Caetano deram moleza para o artilheiro. Um leitor ligeiramente paranoico chegou a sugerir que o gol em Presidente Prudente tinha sido resultado de uma armação entre os clubes, a arbitragem, a TV, os patrocinadores. Em contraste com eles, há os eufóricos. Na transmissão da Bandeirantes do clássico contra o Palmeiras, o locutor Luciano do Valle chegou a exclamar, após o gol corintiano: "Deus existe!" E opinou que o jogador "está muito perto de ser o Fenômeno de novo". Ronaldo, por enquanto, equilibra- -se entre esses extremos, dobrando os céticos e contendo a exaltação dos eufóricos, tentando conciliar a badalação mundana, midiática, com as exigências das preparações física e técnica. Em seu conto "A Vida Privada", de 1892, o norte-americano Henry James concebeu um escritor dividido em dois: enquanto um deles se encerra no escritório para trabalhar em sua literatura, uma espécie de clone seu comparece às festas, eventos e compromissos sociais. Só assim ele não se dispersa e pode se dedicar integralmente ao seu ofício. Na impossibilidade de fazer o mesmo, Ronaldo tem que ser um artista da corda bamba. Se ele só se concentrar em jogar futebol, rejeitando os convites e limitando as aparições, esvaziará sua imagem pública, desagradará ao império da mídia, aos patrocinadores e à sua própria vaidade. Se, ao contrário, deixar que essa roda-viva o arraste, o craque perderá o foco e seu futebol tenderá a cair. Pelo bem dele, do Corinthians e do futebol, torço para que Ronaldo consiga manter em equilíbrio suas duas metades. Depois de repetir durante anos a frase do poeta Hoelderlin, segundo a qual "o homem é um deus quando sonha e um mendigo quando pensa", hoje penso que é preciso equilibrar a metade que sonha e a metade que pensa. Sonhar apenas, sem pensar, como se vivêssemos numa ilha da fantasia, pode levar ao mais completo delírio, se não à barbárie. Mas só pensar, abrindo mão do sonho, acaba nos tornando um bando de burocratas, de "burgueses pouco a pouco", para usar a expressão de Mário de Andrade. Cabe, portanto, apostar em Ronaldo, mas de olho na balança e na tabela de classificação.

sexta-feira, 13 de março de 2009

2 Homens de Ferro em Homem de Ferro-2

Folha de São Paulo: Depois de concorrer ao Oscar de melhor ator e ter vencido o Globo de Ouro na mesma categoria por sua atuação em "O Lutador", Mickey Rourke vai participar de "Homem de Ferro 2", informam agências internacionais de notícias. Ele será um vilão russo, que se oporá ao protagonista Tony Stark, o Homem de Ferro, que continuará sendo interpretado por Robert Downey Jr.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Mestre e Gafanhoto

Jose:-Dr. Millôr, já ouvi a opinião dos médicos Tchekhov e House e eles não conseguiram definir se a mentira é patológica ou faz parte da fisiologia da humanidade. Gostaria de ter seu ilustríssimo parecer. Millôr:-Zé, a mentira é apenas a mais-valia da credulidade. Já que ela não existe se não houver um crédulo. Abraço.

quarta-feira, 11 de março de 2009

O Comentário

Anônimo disse...
E aí Blater, O melhor comentário sobre o gol do fenômeno foi "http://www.youtube.com/watch?v=Mo9veKWCbKwDeus existe"!

terça-feira, 10 de março de 2009

O Medico e O Fenômeno

O Ronaldo é o Dr. House do Brasil.Ele consegue ser ao mesmo tempo cretino e genial,veneno e remedio.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Realidade e Sonho

Ronaldo Fenômeno e a literatura fantástica
Gabriel García Márquez, em sua infinita criatividade, nem em seu extraordinário "Cem anos de solidão" foi capaz de imaginar situações como as vividas por dois brasileiros.
Por mais que o Brasil não tenha nenhum escritor que se inscreva no topo da literatura fantástica latino-americana, o país é pródigo em ser mais fantástico que a literatura.
Que outro país, por exemplo, tem um episódio como o de Tancredo Neves, o presidente que foi sem jamais ter sido?
E que outro país tem um ídolo como Ronaldo.
Depois de ter desafiado a realidade duas vezes, eis que ontem ele foi personagem de acontecimentos que beiram não só o fantástico, mas como, também, o surreal.
Entrou em campo num jogo aparentemente perdido para mudá-lo da água para o vinho, em apenas 31 minutos e cinco participações impressionantes.
Sofreu uma falta clara não marcada na entrada da área, deu um drible desconcertante num adversário, mandou um balaço no travessão do Palmeiras, deu um passe da linha de fundo para quase o empate corintiano, e, para coroar, marcou de cabeça, nos acréscimos o gol da vitória, da sua vitória.
O que será daqui para frente ao futuro pertence.
Mas o que já aconteceu em Presidente Prudente é suficiente para dizer que ele não é desse mundo.
Porque ninguém como Ronaldo tem sido capaz de fazer o real parecer um sonho ou fazer de um sonho realidade.
Como a morte de Tancredo Neves, a vida de Ronaldo confunde o que é verossímil com o inverossímil.
Amanhã, quando alguém contá-la, se não estiver muito bem documentada, haverá quem diga que é exagero.
Ainda bem que a vida dele em campo está toda gravada.
Comentário para o Jornal da CBN desta segunda-feira, 10 de março de 2009.
http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/juca-kfouri/JUCA-KFOURI.htm

domingo, 8 de março de 2009

O Dia do Fenômeno

O Futebol brasileiro renasceu.

Watchmen

Os Watchmen são uma especie de X-Men da Direita.É bom que fique claro:Ser conservador não é necessariamente ruim e Alan Moore é um Mestre.Eu estou posicionado bem mais próximo do pensamento progressista.Qualquer comentario meu será,portanto,tendencioso;mas não posso deixar de dizer:Snyder flertou com o fascismo com seu apelo a perfeição das imagens, violencia saneadora e uso de uma Razão encarceradora.E eu acho que não estou só nesse sentimento:http://www.youtube.com/watch?v=3_xRuk7R_8c

terça-feira, 3 de março de 2009

Para Continuar Acreditando na Saude do Brasil

JOSÉ GERALDO COUTO -Cansei de futebol
**************************************************************************************
O FUTEBOL brasileiro anda chato demais. Muita gente já falou sobre isso. Não é a primeira vez que o desgosto se abate sobre os aficionados, mas o mais preocupante é que desta vez não parece tratar-se de uma entressafra ou fase passageira, mas de uma tendência que veio para ficar.Num contexto em que os craques vão embora cada vez mais jovens, empobrecendo tecnicamente os times e deixando-os à mercê das táticas cinzentas e pragmáticas, é difícil vislumbrar uma luz no fim do túnel. Acompanhar os campeonatos, o dia-a-dia dos clubes, as atribulações da seleção, tudo isso virou uma atividade penosa, desagradável. A famosa crítica norte-americana Pauline Kael contava uma historinha pessoal para ilustrar a queda de qualidade do cinema em geral. No começo da sua carreira, nos anos 50, as pessoas lhe perguntavam: "Puxa, você pode ver todos esses filmes de graça?" Quatro décadas depois, a pergunta tinha mudado: "Puxa, você tem mesmo que ver todos esses filmes?" O mesmo vale hoje para os comentaristas de futebol. Sempre que, por um motivo ou por outro, o futebol me enjoa ou enoja, eu me lembro de uma crônica de Paulo Mendes Campos, escrita nos anos 60 e incluída no livro "A Palavra É Futebol" (editora Scipione). Chama-se "Descanso de Futebol" e descreve à perfeição o sentimento do torcedor melancólico. Ele diz: "Retirei-me [do futebol], insisto, para preservar meu patrimônio de memórias, sem o desgaste da ansiedade de quem continua, em idade canônica, a esperar nas arquibancadas um milagre maior". Analogamente, José Paulo Paes (1926-98), grande poeta e tradutor, mas sobretudo grande homem, dizia, já no fim da vida, que não lia mais jornal nem via TV para não se aborrecer. "Por que é que eu vou ler sobre a Guerra do Golfo? Guerra por guerra, prefiro ler a "Ilíada'", dizia. Claro que ninguém pode viver no passado, nem apagar as guerras e as desgraças (entre elas o futebol ruim) simplesmente desligando a TV. A gente faz isso momentaneamente, para preservar a saúde, se reciclar e voltar revigorado para a lida da vida. A aqueles que hoje, nesta aridez de sete desertos, sentem vacilar o amor pelo futebol, recomendo, além dos eficazes remédios de sempre (uma pelada entre amigos; DVDs sobre Pelé, Maradona e outros gênios; crônicas de Nelson Rodrigues; filmes de Ugo Giorgetti), um biotônico que acaba de sair: o livro "A Dança dos Deuses - Futebol, Sociedade, Cultura" (Companhia das Letras), do historiador Hilário Franco Júnior. É o mais completo estudo que conheço sobre o futebol como fenômeno cultural. Além de situar historicamente o futebol no mundo moderno, o livro, bem escrito, nos mostra todos os significados que esse esporte ao mesmo tempo bruto e refinado tem para as nossas vidas, como indivíduos ou como coletividade. E pronto: sem perceber, nos reconciliamos com o bendito jogo da bola.

Urgencia 4-Parte final-Ha algo de podre na Saude deste pais

02/03/2009 - 22h09
Com 94% da população sem plano de saúde, médicos de AL decidem abandonar o SUS
Carlos Madeiro Especial para o UOL NotíciasEm Maceió
Alagoas deve ser o primeiro Estado do país a não contar com médicos credenciados ao Sistema Único de Saúde (SUS). Em greve há oito meses, os profissionais do Estado decidiram, de forma unânime, sair em massa da lista de prestadores de serviço do SUS. A assembleia aconteceu na noite desta segunda-feira (2) na sede do Sindicato dos Médicos (Sinmed). Em Alagoas, 94% da população não tem plano de saúde e depende dos serviços públicos.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Capitulo 10

Ele decidiu que escreveria um livro ridiculo como alguem que está no Big Brother.Essa grande obra seria tambem vaidosa como alguem que critica um reality show.Algo serio,intimo e bobo como a inveja.Um erro complexo como um sistema politico ou financeiro.Bobo e complexo como as memorias do Sarney ou como o blog de um faroleiro que não sabe mentir muito bem.

domingo, 1 de março de 2009

E Depois da crise...

Visões da Crise-parte final

...tanto ortodoxos, quanto keynesianos, trabalham com a mesma idéia de um Estado homogêneo e externo ao mundo econômico, que num caso é capaz de se retirar e ficar na porta do mercado, cuidadoso e atento como um guarda florestal, ou então, no outro caso, é capaz de formular políticas econômicas sábias e eficazes a cada nova crise, como um Papai Noel à espera do próximo Natal, para distribuir seus presentes. Por isto, ortodoxos e keynesianos compartilham a mesma posição e a mesma dificuldade liberal de compreender e incluir nos seus modelos e recomendações as contradições e as lutas políticas próprias do mundo econômico. Não conseguem entender, por exemplo, que na origem financeira da atual crise econômica mundial não houve um erro ou "déficit de atenção" do poder público dos EUA, onde a desregulamentação dos mercados financeiros e as "bolhas" ou "ciclos de ativos" cumpriram - nos anos 80/90 - um papel decisivo na financeirização capitalista e no enriquecimento privado, mas também no fortalecimento do poder fiscal e creditício do Estado e da moeda americanos. Como consequência, agora, os passivos que estão realimentando a própria crise não são uma "massa podre homogênea", pelo contrário, eles têm nome e sobrenome, individual, corporativo, partidário e nacional, e envolvem interesses contraditórios que estão travando uma luta ferrenha em todos os planos e instâncias nacionais e internacionais. O Estado e o capital financeiro americanos foram sócios no fortalecimento do poder político e econômico americano nos década de 80/90, e agora se defenderão à morte a cada novo passo e a cada nova arbitragem que imponha seu enfraquecimento dentro e fora dos EUA. Por isto, esta crise não tem uma solução técnica e não existe possibilidade de um acordo político à vista entre os grupos de poder americanos e entre as grandes potências. Os economistas e as autoridades governamentais de todo o mundo estão num vôo cego. A crise começou como um tufão, mas deverá se prolongar e aprofundar na forma de uma "epidemia darwinista".
José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Visões da Crise 2

CartaCapital Seções Economia
//

*Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa *
Uma a uma, as mais respeitadas autoridades dos Estados Unidos no campo da economia e das finanças somam-se à recomendação de que o governo desista de meias medidas e estatize os bancos que não encontrem outra saída para suas dificuldades. Fazem pensar em uma junta médica reunida para tentar convencer um paciente a deixar de lado os tratamentos naturais e a homeopatia e partir de vez para a quimioterapia. Os partidários da medicina natural são, nesta metáfora, os que recomendaram que o governo interviesse o mínimo possível e deixasse o livre mercado fazer seu trabalho, expurgando os incompetentes – que, a esta altura, parecem incluir as maiores empresas dos setores mais importantes da economia estadunidense. Se essas vozes não se calaram totalmente, são cada vez mais restritas aos conservadores e libertarians mais teimosos, radicais e marginais. Caso de Deroy Murdock, colunista da National Review que ainda tenta iludir a si mesmo e aos leitores de que basta isentar os bancos de imposto de renda e permitir que os investidores que têm recursos na Suíça ou em paraísos fiscais os repatriem sem pagar taxas e multas. Parece difícil a alguns abandonar o reflexo condicionado desde os anos Reagan de propor cortes de impostos como solução para qualquer problema econômico imaginável, embora soe cada vez mais como a mania dos médicos do século XVIII de receitar sangrias para todo tipo de problema de saúde. O republicano Alan Greenspan, paladino da desregulamentação e da não-intervenção durante sua gestão do Fed (1987 a 2006), encarregou-se de avisar o setor financeiro de que o gato subiu no telhado. “Pode ser necessário nacionalizar temporariamente certos bancos para facilitar uma reestruturação rápida e ordenada. Entendo que, uma vez a cada cem anos, é isso que é preciso fazer”, disse ao Financial Times em 18 de fevereiro.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Capitulo 9

E o primeiro passo para ser um heroi seria reconhecer que entre a burrice e a canalhice não passa o fio de uma navalha e que o maior segredo de todo homem é a burrice.Sendo assim os herois reais eram os politicos:atores de um Big Brother cotidiano a velar e revelar nossa essencia ridiculamente canalha.Daí em algum tropeço a humanidade dele iria para frente.

O Escritor

Para entender os derivativos que geraram A Crise

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Urgencia 3

São Paulo, sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
CLÓVIS ROSSI- Maçanetas e dignidade
SÃO PAULO - Volto a uma história contada pelo velho sábio que habitava esta Folha. Uma vez, ele perguntou a um governador biônico, seu amigo, porque gostava tanto de ser governador. Resposta: "Ah, meu caro, você não sabe como é bom passar quatro anos sem precisar nem sequer pôr a mão na maçaneta da porta" (não havia reeleição naquela época; imagine a delícia agora que o cidadão passa oito anos tendo sempre um "aspone" para cuidar da delicada tarefa de abrir portas). Na verdade, não são apenas governadores (ou prefeitos ou presidentes) que gozam das benesses de ter casa, comida e roupa lavada enquanto exercem o cargo. Deputados e senadores também, embora em menor escala. É natural, por isso, que políticos em geral tenham uma ideia apenas virtual de como é abrir uma porta, para não mencionar verdadeiras dificuldades. Essa distância só é quebrada, infelizmente, em caso de tragédia, como a que acaba de ocorrer com David Cameron, líder do Partido Conservador britânico, que, se a eleição fosse hoje, seria o substituto de Gordon Brown como primeiro-ministro, dizem as pesquisas. Cameron perdeu o filho Ivan, de seis anos, vítima de um tipo raro de epilepsia. Humanizou-se em consequência, tanto no trato que lhe dedicou a mídia local como o mundo político. A questão é saber se a humanização irá adiante ou, como escreve o jornal "The Times", se "seu partido, informado pela experiência do que é depender tão pesadamente do Serviço Nacional de Saúde [público], mudará a Grã-Bretanha?". Posto de outra forma: os políticos, de direita ou de esquerda, entenderão que a grande maioria da população, no Reino Unido como no Brasil, é obrigada a pôr a mão na maçaneta da saúde pública e que, por isso, ela deveria abrir a porta para a dignidade?

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Ode ao Rato

Telio Navega - http://oglobo.globo.com/blogs/Gibizada
9/2/2009-
22:46
Dr. Mouse
Hugh Laurie que se cuide. Vem aí o Dr. Mouse.
Saiu este mês, na Itália, a minissérie "Dr. Mouse", com o Mickey dando uma de médico especializado em diagnósticos difíceis, assim como o protagonista da série campeã de audiência "House". Ao seu lado, como assistentes, estão Pateta (Dr. Foreman?), Horácio e Clarabela. Minnie, pelo visto na imagem acima, posará de Dra. Cuddy, não?
Será que o camundongo da Disney será tão arrogante quanto o da série exibida no Brasil pelo Universal Channel? A HQ tem quatro partes e a Abril Jovem promete publicá-la no Brasil no segundo semestre.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Visões da Crise

1)NIVALDO CORDEIRO: um espectador engajado







A QUESTÃO CENTRAL DA CRISE
03 de dezembro de 2008

Qual é a questão central da crise econômica mundial? Não é nem a sua origem, indiscutivelmente derivada da desastrada atuação do Estado, que exorbitou no que pôde: na regulação, na emissão de moeda, nos gastos públicos e na determinação imperativa de empréstimos para pagadores duvidosos, gerando a bolha imobiliária. Dizer que a crise nasceu do mercado e das regras de movimento da sociedade capitalista é menos que burrice, é má fé.

Nem também é discutível a sua dimensão, já de proporções mundiais e profundas. Não se pode ser leviano diante da gravidade do momento. Essa crise já é a mais séria desde 1929 e deixará seqüelas por muitos anos.

Também é indiscutível que a saída da crise envolve a atuação do Estado, seja porque este tem o monopólio da emissão de moeda, pois se trata, antes de tudo, de uma crise de crédito, seja porque reformar o Estado se tornou tarefa de urgência. Sem a emissão monopolista não há como ser restabelecido o volume de crédito necessário para a superação da crise. Da mesma forma, é imperativo discutir a atuação e o tamanho do Estado. Se essa crise trouxe algo de bom é colocar essa questão para reflexão, mesmo que a maior parte dos economistas, os que supostamente têm os instrumentos para a superação da crise, partam do suposto de que o Estado deve aumentar.

A questão técnica não pode subordinar a questão ética.

Se admitimos que o tamanho e a exorbitância Estado estejam na raiz do problema, segue-se logicamente que seu crescimento não pode ser a solução, mas sim, o agravamento das coisas. O problema é que o debate na grande imprensa e mesmo na academia parte de supostos falsos, que levam a soluções falsas. É preciso restabelecer o primado da lógica e do princípio de realidade para nortearem a discussão.

Quero aqui focar na questão do crédito. Em tese, para que o crédito seja restabelecido nem o Estado precisa crescer além do tamanho que já tem e nem é necessário quebrar as regras morais da sociedade capitalista. Economistas como Krugman recomendam não deixar que as grandes corporações problemáticas vão à bancarrota, como a GM e o Citibank, beneficiárias do “boom” econômico artificial, bem como lamentam que o banco Lemann Brothers tenha sido liquidado. O equívoco econômico aqui se soma ao equívoco moral.

Essas grandes corporações tomaram decisões erradas, incharam custos, pagaram rendimento a acionistas, diretores e gerentes desproporcionais aos resultados obtidos. Então sancionar essas decisões com créditos abundantes e baratos, ou subscrição de capital, mesmo que condicionado a mudanças nas suas práticas corporativas, será um ato de profunda imoralidade. É dar dinheiro para maus gestores, que poderia ser utilizado ou para sanear o Estado ou para apoiar empresas sólidas e sérias.

Aqui o ato econômico são é também o ato revestido de plena moralidade. Ou deveria ser.

Para mim é essa a questão central, que deveria ser o dilema de consciência da equipe econômica de Barack Obama. Executar os atos morais é o caminho mais curto para a saída da crise. Praticar imoralidades é prolongar a crise até o limite do insuportável. Veremos nos próximos meses essa dança em torno da moralidade e o que dela emergir tornará o presidente eleito ou um estadista ou um vilão aos olhos da história.
*************************************************************************************
2)Caos e barbárie na banca americana
O governo Barack Obama começou a fazer mágicas e milagres a fim de evitar que, formalmente, venha a ficar com a maioria absoluta das ações do Citibank. Na verdade, se espera para ver qual será o truque do governo para não ficar com o Citi ou para fingir que não ficou.
Discutem-se coisas como converter o dinheiro que o governo colocou no Citi em ações ordinárias a preços camaradas. Isto é, o governo pagaria mais do que o preço atual e irrisório de mercado a fim de não ficar com ações demais. Mas alguém do público americano deverá notar que, deste modo, o governo Obama vai doar dinheiro do contribuinte para o Citi, seus acionistas e credores.
Na quarta-feira começam os “testes de estresse” aos quais o governo vai submeter as instituições financeiras. Em tese, vão checar se os bancos são capazes de resistir a novas rodadas de apodrecimento da economia e dos seus ativos. Caso não sejam capazes, as instituições “terão a oportunidade de, primeiro, procurarem fontes privadas de capital. Caso não consigam, o capital tampão provisório será colocado à disposição pelo governo”, segundo diz a nota liberada hoje pelo Tesouro, pelo Fed e três agências de regulação financeira dos EUA.
Bem, dá quase vontade de rir. Se um banco estiver para quebrar (se não “passar” no “teste de estresse”), qual agente privado vai colocar dinheiro lá?
Como serão tais testes de estresse? Qual o cenário econômico que será usado? Recessão profunda, de mais de 3%? De 1% e pouco, como estima o Fed? Qual o nível de desemprego e calotes? Ninguém sabe nada, e os testes podem ser truque também.
Segundo o “Financial Times”, os concorrentes menos podres estão preocupados com os privilégios que um Citi estatizado, ou quase, possa ter, como capital barato. Fazem lobby para limitar o raio de ação do Citi.
De resto, a que foi a maior seguradora do mundo, a AIG, estatizada em setembro de 2008 pelo governo dos EUA, está quebrando de novo _o pacote de socorro da seguradora começou com US$ 85 bilhões, passou a US$ 150 bilhões e agora deve ficar ainda maior. A AIG vai quebrar dentro do governo. Como a Merrill Lynch quebrou dentro do Bank of America.
Está o caos e a barbárie no sistema financeiro americano.
Escrito por Vinicius Torres Freire

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Woody Allen,O Sobrevivente

Woody Allen é um cineasta notável em todos os sentidos.O Oscar não consegue ignorar a sua capacidade de escolher boas atrizes como Diane Keaton e Penelope Cruz.Eu sou um novato no campo da cinefilia blogueira e já vi que ele chegou aqui tambem com muita força como atestam as palavras do Heraclito Maia:"Eu tinha parado de acompanhar a carreira do Allen após DIRIGINDO NO ESCURO, e só voltei recentemente com O SONHO DE CASSANDRA e VICKY CRISTINA BARCELONA. Decidi então ver em seqüência os filmes que estavam faltando. MELINDA E MELINDA é o único que achei fraco. A idéia de contar uma mesma história de duas formas, uma cômica e outra trágica, é ótima, mas acho que Allen não foi bem sucedido em nenhuma das duas. PONTO FINAL eu achei espetacular, tão bom ou melhor que O SONHO DE CASSANDRA. A temática tão presente em toda sua obra, dos atos ridículos que o ser humano é capaz de cometer por conta de fraquezas (paixão, ambição, etc.) foi muito bem trabalhada aqui. Já SCOOP é o retorno de Allen às suas melhores comédias. E de certa forma dialoga com PONTO FINAL, como se fosse uma versão cômica do mesmo. Mais ou menos como se MELINDA E MELINDA fosse desdobrado em dois filmes distintos, só que dessa vez acertando plenamente o alvo."

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Capitulo 8

Se os comunistas eram de um mau humor insuportavel,as piadas politicamente incorretas com as desgraças do sistema ja não tinham mais graça.Ele,um pequeno desastre individual,nessa hora,como todo mundo,tinha que se transformar em um heroi sem querer querendo como The Spirit.

A Vida é Bela,apesar do desemprego

http://www.youtube.com/watch?v=qRX57zprNdw

Capitulo 7

Repentinamente ele descobriu que a vida era uma piada.Já podia escrever um livro,porque já conhecia um pouco da sua propria ignorancia.Já sabia que ainda que tentasse ser profundo e individual seus textos sempre pareceriam ridiculos como os do Sarney.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

O Sobrenatural de Almeida existe

Texto extraido do blog Clube da Evidencia:
As orações praticadas por terceiros podem influenciar positivamente o curso clínico de pacientes coronários?
Breve introdução: A reza tem sido descrita como um dos métodos mais antigos de cura da humanidade e, ainda hoje, tem sido amplamente usada como terapia no combate e controle a diversas afecções. Principalmente com o avanço da Medicina Alternativa e Complementar que tem sido observado em resposta à Medicina tradicional mecanicista, orações e seus efeitos na saúde se tornaram importante objeto de análise em estudos científicos.
É consenso que a mente pode influenciar a resposta do corpo às condições de saúde e, portanto, orações praticadas pelo doente podem modelar o desenvolvimento da doença, bem como outras atitudes psicológicas. Entretanto, apesar da crença popular de que orações realizadas por terceiros teriam poder de cura, este ainda é um tema divergente e polêmico da Medicina atual.
Nosso objetivo era responder essa questão e, para tal, separamos dois artigos científicos de estudo clínico randomizado que se mostraram a favor da influência positiva da reza praticada por terceiros em afecções coronárias, apesar de haver referências científicas que mostrem o contrário.
Estratégia de busca: “intercessory prayer” e “remote intercessory prayer” no google acadêmico.
Artigo Apresentado: Autor: Harris W., Gowda M., Kolb J. e cols.
Ano de publicação: 1999
País: Estados Unidos
990 pacientes admitidos na unidade de tratamento coronário do hospital MAHI, em Kansas City, EUA, foram dividos, aleatoriamente, em dois grupos: um receberia orações vindas de um grupos de oração e um não receberia orações desse grupo.
Os pacientes não sabiam em qual grupo estavam e tampouco sabiam que estavam participando desse estudo, e não havia qualquer tipo de contato entre o grupo de oração e o paciente a ser beneficiado. Então, usando uma escala elaborada por médicos do próprio hospital, era avaliado o curso clínico do paciente internado, levando em conta eventos cardiovasculares e relacionados, bem como procedimentos realizados durante a estada no hospital. O tempo médio de internação também foi medido nos dois grupos.
Não houve diferença significativa no número de ocorrências de cada procedimento ou evento cardiovasculares isoladamente nos dois grupos e não houve diferença significativa entre o tempo de internação hospitalar nos dois grupos. Porém, utilizando-se a escala que reúne todas as ocorrências de eventos ou procedimentos, o grupo que recebeu as orações obteve um escore significativamente menor que o outro grupo (6.35 +- 0.26 contra 7.13 +- 0.27, respectivamente, com P = 0.04).

Clinical Bottom Line: Portanto, de acordo com o artigo apresentado, o recebimento de orações praticadas por terceiros, não estando os pacientes cientes dessa prática, pode influenciar positivamente o curso de pacientes internados na ala de tratamento coronário do hospital. Os autores não elaboram sobre o mecanismo pelo qual isso aconteceria.

Um Pouco de Historia do Mal

Texto extraido do blog Clube da Evidencia:***Do Surgimento da Unidade 731***
Apesar de uma longa história de esforços e lutas na tentativa de salvar vidas e reduzir o sofrimento dos pacientes, algumas vezes a medicina tem sido usada para fins distorcidos. O conhecimento adquirido capaz de curar, também pode ser usado para aumentar a eficiência de matar. Um exemplo reconhecido mundialmente foram os estudos nazistas realizados em campos de concentração durante a segunda guerra mundial. Poucos sabem, no entanto, que o oriente apresentou um modelo bem parecido no mesmo período histórico. Entre 1932 e 1945, médicos japoneses realizaram inúmeros experimentos com prisioneiros de guerras e civis, incluindo tratamentos desumanos e vivisseções (NIE, 2002).
Partindo da observação real de que mais soldados morriam de causas infecciosas do que em batalhas, o governo japonês criou diversas unidades para a pesquisa de prevenção de doenças em soldados japoneses, bem como estudos que pudessem aumentar a mortalidade infecciosa em inimigos militares ou civis (POWELL, 2006). Acredita-se que ao longo de 13 anos de pesquisa, 10.000 cobaias humanas tenham perdido suas vidas diretamente e que outros 200.000 teriam morrido em conseqüência de surtos epidêmicos. Dentre as vítimas haviam chineses, russos, coreanos, europeus e americanos (KLIETMANN, 2001)(CHANG, 1999).
A mais famosa dessas unidades de pesquisa é conhecida como Unidade 731, tendo sido coordenada pelo general Shiro Ishii (foto), anteriormente professor de cirurgia da Universidade de Kyoto (WATTS, 2002). Criada em 1936, com sede localizada na região da Manchúria, na cidade de Pingfang, próxima a Harbin, a Unidade 731 chegou a ocupar 150 edificações e possuir 3000 funcionários, além de diversas unidades subsidiárias como as unidades 1855 (em Beijing), 200 (na Manchúria) e 9420 (em Cingapura) (BYRD, 2005). Na época recebeu o nome fictício de “Escritório de Purificação e Descontaminação de Reservatórios de Água”, não chamando qualquer atenção até próximo do fim da guerra (KLIETMANN, 2001) (CHANG, 1999).
Apesar de não ter assinado a Convenção de Genebra, que versa sobre a proibição de usos de armas biológicas, o governo japonês manteve suas equipes de pesquisa de armas biológicas em sigilo. As principais pesquisas realizadas pela unidade 731 consistiam em estudos sobre cólera, peste bubônica, malária, condições extremas e doenças sexualmente transmissíveis (altamente prevalente entre soldados de qualquer nação). Apesar da maioria dos pacientes terem sido prisioneiros de guerra, alguns eram civis raptados nas vilas conquistadas da China, da Rússia e da Coréia. A partir do momento em que eram alocados em pesquisas, os indivíduos perdiam seus nomes erecebiam números de identificação. Entre os funcionários da Unidade, eram conhecidos como maruta, isto é “toras de madeira”. Essa despersonificação dos prisioneiros demonstra que, como nas pesquisas nazistas, estes não eram reconhecidos como seres humanos, mas apenas como cobaias (NIE, 2004).
Bibliografia
POWELL, T., Cultural context in medical ethics: lessons from Japan. Philosophy, Ethics and Humanities in Medicine. 2006 Apr 3;1(1):E4.
WATTS, J., Victims of Japan's notorious Unit 731 sue. The Lancet. 2002 Aug 24;360(9333):628. (WATTS, 2002)
NIE, J.B., Japanese doctors' experimentation in wartime China. The Lancet. 2002 Dec;360 Suppl:s5-6. (NIE, 2002)
NIE J.B., The West's dismissal of the Khabarovsk trial as 'communist propaganda': ideology, evidence and international bioethics. Journal of Bioethical Inquiry. 2004;1(1):32-42. (NIE, 2004)
KLIETMANN, W.F.; Ruoff, K.L., Bioterrorism: implications for the clinical microbiologist. Clinical Microbiology Reviews. 2001 Apr;14(2):364-81. (KLIETMANN, 2001).
CHANG, I. et al. The Asian-Pacific War, 1931–1945: Japanese atrocities and the quest for post-war reconciliation. East Asia Volume 17, Number 1 / March, 1999 ISSN 1096-6838 (CHANG, 1999)
BYRD, G.D., General Ishii Shiro: His Legacy is that of Genius and Madman. Thesis presented to the faculty of the Department of History East Tennessee State University, May, 2005, disponível no sítio http://etd-submit.etsu.edu/etd/theses/available/etd-0403105-134542/unrestricted/ByrdG042805f.pdf (BYRD, 2005)

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Capitulo 6-Venom

Ele tinha uma estranha atração pelos textos radicais do pessoal da Direita que não cansa de nos avisar do mal escondido em nossos corações,mas já estava cansado dessas leituras.Tentava ocupar seu tempo com os delirios do cinema,mas não podia fugir de caras como Clint Eastwood.Ser bom é um passo tão leve e,ao mesmo tempo,tão complexo.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

O Impossível Acontece

Como diria Nelson Rodrigues,o Sobrenatural de Almeida estava do lado do Fluminense.

Uma Pelada Triste e a Alegria Vestida de Sol

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Enquanto isso na China...2

Paulo Francis dizia que...

(O Globo, 18/02/96) - EUA - Demi - Demi Moore não devia ter colocado silicone no seio. Não precisava. Seus recursos naturais eram mimosos, como vimos quando foi ao Rio. Não é todo homem, eu diria que não é homem de bom gosto, que admira os seios tamanho família, produzidos pelo silicone, que, falando nisso, parecem todos iguais e de borracha.Ainda assim, Demi é um taco. Nos bons tempos de Hollywood, ela receberia o apelido de O Corpo e seria mostrada nua, na medida pré-pornográfica permitida às estrelas, e faria muito amor. Mas a moda hoje exige atividade importante para a mulher. Demi em "A letra escarlate", desconstruiu sem dúvida a história de repressão sexual e calvinismo, escrita por Nathaniel Hawthorne, de quem um avô foi juiz calvinista que queimou feiticeiras. Agora, em "A jurada", ela é convidada a fazer parte de um júri e diz que gostaria muito. Mulher como Demi preferia ir para a Romênia a ser jurada. É chatíssimo. Paga mal. Muita gente não vota, já que o voto não é obrigatório nos EUA, porque, se se tira título de eleitor, se é candidato certo a jurado.O réu é da Máfia. Demi começa a ser ameaçada por um modelo de roupas masculinas, Alec Baldwin. Tem um filho de 11 anos. Alec ameaça atropelá-lo. Os dois berram muito nessa seqüência, imaginando que isso é representar como manda o Actor’s Studio. Demi freta um avião sem sequer ter cartão de crédito... O quebra-pau final é no Panamá. Não falemos de verissimilitude. Estamos no mesmo mundo de narcisismo estratosférico que leva a uma invasão de índios na terra de Esther Prynne, na "Letra morta" de Demi. Vai-se vê-la pelo corpo. Querer drama é pedir demais.

Enquanto isso na China...

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

capitulo 5

Genial no ser humano é a bondade.Quem puder ser bom que seja.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Capitulo 4

Foi aí que ele topou na questão básica.Não era a de Shakespeare e sim,ter ou não ter.Depois de negociar varias metas com varias escravas,caiu na questão trágica e matemática:Dinheiro,beleza e inteligencia eram condições necessárias e não suficientes.Mas ele só teria autoridade para expulsar os vendilhões de templo se conseguisse um ilusão melhor que a deles.A propaganda é só o fantasma do negocio.Um sonho teria que megulhar na cornicha do mercado.Nos ultimos anos sonhos como a generosidade e a eficiencia haviam morrido no velho leste e no novo mundo.Ele ficava imaginando em qual sala escura estaria escondida a esperança.Talvez ela estivesse em algum cinema vendo as aventuras de Peter Parker.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Um Jogo Imortal

Moniz Vianna,o cinema e o Flamengo.Nelson Rodrigues,o Teatro e o Fluminense.O Fla-Flu e a Imortalidade:

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Confissões de Um Ignorante ou Elegancia e Generosidade 3

Quero pedir perdão por dois pecados:Não conhecia Moniz Vianna e ate bem pouco tempo atrás não sabia da importancia espiritual do futebol brasileiro.Depois das confissões começo minha penitencia reproduzindo o Texto de Sergio Augusto no Jornal Estado de São Paulo: *** O homem que melhor nos ensinou a ver um filme*** Com a morte de Antonio Moniz Vianna, em janeiro, o País perdeu o seu mais influente, elegante e incisivo crítico.Um minuto de silêncio precedeu o jogo do Flamengo contra o Volta Redonda, domingo passado, pelo Campeonato Carioca. Quantos dos presentes no Maracanã conheciam, ainda que vagamente ou só de nome, Antonio Moniz Vianna?, perguntei-me ao saber da homenagem, seguro de que jamais teria uma resposta satisfatória. Moniz Vianna, morto na madrugada do último sábado de janeiro, aos 84 anos, não era uma celebridade, apenas um dos mais ilustres torcedores do Flamengo, sua maior paixão depois do cinema. Célebre ele fora em décadas passadas e famoso há de ficar como o primeiro crítico de cinema brindado com um minuto de silêncio no Maracanã.
Se vivêssemos no melhor dos mundos, todas as salas de exibição brasileiras também lhe teriam prestado alguma forma de homenagem em suas matinês do último domingo, pois o cinema lhe deve mais, muito mais, tributos que o futebol do Flamengo.
Moniz foi, simplesmente, o mais influente crítico de cinema do país. Não há controvérsias sobre o que acabo de afirmar. Ele não só escrevia todos os dias, sobre quase todos os filmes em cartaz, como seus comentários, quase sempre tomando duas ou mais colunas de alto abaixo do jornal, saíam no então mais lido diário de circulação nacional, o Correio da Manhã. Isso numa época (de 1946 ao final dos anos 60) em que, no mundo inteiro, a crítica de cinema diária era curta, ligeira e pedestre
.
Seus competidores, portanto, não foram Bosley Crowther (por longo tempo o principal crítico do New York Times) ou Louis Chauvet (idem do France-Soir), mas aqueles, mais ensaísticos, com mais tempo para escrever e espaço para se espalhar em publicações semanais, mensais e especializadas, como André Bazin e Jacques Doniol-Valcroze (que dividiam a seção de cinema do L?Observateur, futuro Nouvel Observateur), James Agee (Time), Otis Ferguson (The New Republic), Robert Warshow (Partisan Review), Manny Farber (The Nation). Daí porque boa parte dos cineastas (Nicholas Ray, Robert Aldrich, Budd Boetticher, os que trabalharam na unidade de Val Lewton, na RKO) cuja descoberta costuma ser atribuída aos franceses, notadamente aos da revista Cahiers du Cinéma, foram na verdade "revelados" por Moniz.
Como escrevia com extrema elegância, incisividade e inigualável erudição, pois, afinal de contas, via de tudo, ao contrário dos franceses, que ficaram, por alguns anos, alheios ao que Hollywood produziu durante a 2ª Guerra, e dos americanos, com limitada intimidade com a produção comercial europeia, conquistou admiradores da Amazônia ao Rio Grande do Sul. Influenciou duas ou três gerações de críticos, alguns dos quais discípulos diretos, como Valério Andrade (que, aos 20 anos, se mandou de Natal, no Rio Grande do Norte, para conhecer o mestre pessoalmente, tornando-se, ainda em 1959, seu primeiro assistente na coluna do Correio da Manhã), Walter Lima Jr., Paulo Perdigão, e, mais tarde, Ruy Castro. Foi também o "wagonmaster" de toda uma linhagem de críticos surgida no início dos anos 1950, no Rio (Ely Azeredo, Décio Vieira Ottoni), em Belo Horizonte (Cyro Siqueira, Mauricio Gomes Leite), e onde mais o Correio da Manhã pudesse ser lido.
Ainda do tempo em que a palavra fita era sinônimo de filme, Moniz preferia chamar de cenário (do francês "scénario") o que há tempos chamamos de roteiro e também só em francês (e no masculino) se referia à montagem ("o montage"). Passou anos traduzindo "novel" por novela, em vez de romance, até que, à falta de reclamações ou cobranças para as quais guardara uma explicação etimológica arrasadora, capitulou ao termo corrente. Tinha especial apreço pelo adjetivo "admirável", peculiaridade que só fui notar relendo a única coletânea de suas críticas, reunidas, em 2004, por Ruy Castro: Um Filme Por Dia (Cia. das Letras).
Venerava John Ford. Não procede, contudo, que em sua lista dos "dez melhores filmes de todos os tempos" figurassem 11 ou 12 criações de Ford. E não foi ele quem, instado a indicar os três maiores gênios do cinema, respondeu: "John Ford, John Ford e John Ford." Se o fizesse, estaria plagiando Orson Welles. Seu filme predileto sempre foi Aurora, de Murnau.
Mas ao genial irlandês do Maine reservou o melhor altar de sua catedral. Acima de todos, O Delator (The Informer), seguido, mais ou menos nesta ordem, por No Tempo das Diligências (Stagecoach), Depois do Vendaval (The Quiet Man); O Sol Brilha na Imensidade (The Sun Shines Bright) - isto mesmo, na imensidade, e não na imensidão; Como Era Verde o Meu Vale; A Longa Viagem de Volta; O Homem que Matou o Facínora; Rastros de Ódio (The Searchers). Sua última crítica, no Correio da Manhã, publicada em 9 de setembro de 1973, foi, justamente, sobre John Ford, , que morrera 10 dias antes.
Fui também seu assistente, junto com Valério Andrade, no começo dos anos 1960, suprema conquista profissional acalentada desde os 14 anos, quando, por acaso, bati os olhos na primeira crítica assinada por ele, e, mesmerizado pela leitura, decidi ali mesmo o meu destino. Moniz foi meu maior mestre, meu mentor. Era uma figura mítica, assaz fordiana: rigoroso e gentil, ranheta e bem-humorado, um pouco como o pater famílias encarnado por Donald Crisp em Como Era Verde o Meu Vale. Divergíamos em muitas coisas (inclusive no futebol); quase entramos em rota de colisão por causa da crítica ("demasiado sionista") que fizera de Exodus, de Otto Preminger; e para alguns dos cineastas brasileiros que ele mais apreciava (Lima Barreto, Jorge Illeli, Rubem Biáfora, Walter Hugo Khouri) eu vivia torcendo o nariz.
Apesar da fama de "inimigo número um do cinema brasileiro", ajudou-o como poucos, e sem favoritismos, quando à frente da Comissão de Auxílio à Indústria Cinematográfica, no governo Carlos Lacerda, e do Instituto Nacional de Cinema. Não foi o único a atacar, com implacável rigor, a chanchada, achincalhada por todos os críticos em atividade nos anos 1940 e 1950. Até por Alex Vianny, proverbial defensor do cinema brasileiro. Não havia clima nem distanciamento suficiente, naquele tempo, para se avaliar, sem parti-pris, o fenômeno da chanchada. Mas não há dúvida que, de todos os seus detratores, Moniz foi o mais virulento.
Os Fla-Flus, de inegável cunho ideológico, que ainda se promovem entre Moniz e Alex ou entre Moniz e Paulo Emílio Salles Gomes me parecem ociosos, se não estapafúrdios. Paulo Emílio foi um (grande) ensaísta, de produção mais compassada, não um crítico ativo cotidianamente, exposto a escolhas e julgamentos tangidos pela urgência. Moniz e Alex, ao menos, jogavam na mesma liga: eram ambos críticos de militância diária, mas Alex tinha contra si dois fatores: seus textos não possuíam o brilho e o charme dos de Moniz, nem desfrutavam da mesma periodicidade, profusão e difusão. Passo ao largo de suas idiossincrasias ideológicas, vale dizer, de seu tropismo stalinista, porque, em matéria de idiossincrasias, Moniz tampouco era fácil.
Preferia René Clair a Jean Renoir, valorizava De Sica, Visconti e Fellini em detrimento de Rossellini, não trocava Pietro Germi por De Santis ou qualquer outro regista supervalorizado pelo PCI. Implicou, desde o início, com a Nouvelle Vague e o Cinéma-Verité (que considerava uma reciclagem tardia do Cinema-Olho de Dziga Vertov); detestava os atores formados (ou deformados, segundo ele) pelo Actor?s Studio; as produções de Jerry Wald para a Fox; o teatro-filmado de Delbert e Daniel Mann (ambos apelidados de "Little Mann", para evitar confusão com o "grande Mann", Anthony Mann, cujos westerns estrelados por James Stewart adorava); as neuroses de Tennessee Williams ("aquele mal psicanalisado dramaturgo"); as afetações e os modismos da crítica parisiense (desde o final dos anos 1940, quando alguém da La Révue du Cinéma, ancestral do Cahiers, proclamou: "Abaixo Ford! Viva Wyler!").
Moniz foi a primeira pessoa que Glauber Rocha, seu fã ardoroso, procurou, ao chegar ao Rio pela primeira vez. Ficaram amigos, depois brigaram e fizeram as pazes, como bons e passionais baianos (Moniz nasceu em Salvador e veio para o Rio com 11 anos). Estavam brigados quando Moniz elogiou Deus e o Diabo na Terra do Sol e de bem quando Moniz pichou Terra em Transe (a seu ver, "caótico e ininteligível"), o que não impediu que o fero mas generoso crítico, então no INC, se esforçasse para liberar Terra em Transe, proibido pela ditadura militar.