segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Guerra Real

Assistindo à guerra-Autor:Fausto Wolff
O cheiro que se sente onde haja um campo de batalha é sempre uma mistura de mijo, sangue, clorofórmio, excremento e medo. Sei porque vi. E o sangue é sempre de jovens, o medo impregna suas almas enquanto borram as calças. No campo de batalha não há higiene. De um lado, um menino de 18, 19 anos impede com as mãos que as vísceras saiam da barriga. De outro, um soldadinho que não sabe nem por que está morrendo se arrasta em busca da própria perna que se desgrudou do seu corpo e foi lançada a alguns metros de distância. São moços pobres para os quais as Forças Armadas prometeram um futuro seguro. São moços caipiras que se criaram vendo Stalones e Schwarzeneggers na televisão e acreditaram que a América era o lar dos bravos. Mas não há nenhum mocinho para ajudá-los agora. Eles, os astros, estão em Malibu Beach, em suas casas de 200 milhões de dólares, meus filhos, e nem sabem que vocês estão morrendo.
Durante a Segunda Guerra Mundial perguntava-me como os pais deixavam seus filhos irem para a guerra. Não tinham medo de que eles morressem? Como esposas deixavam seus maridos irem para a guerra? Não tinham medo de que eles não mais voltassem ou que voltassem cegos ou sem uma parte do corpo? Menino, no meio da noite de escuridão e ignorância que me envolvia, eu jurara: ''Quando eu crescer não vou deixar que as guerras continuem.'' Mal sabia eu que pouco mais de dez anos depois estaria no Canal de Suez como correspondente de guerra e que ainda veria outras duas guerras. Naqueles dias descobri - não sei se conscientemente, provavelmente não - que a vaidade e a necessidade de sermos reconhecidos conseguem superar o medo

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