sábado, 18 de abril de 2009

Coda

Terça-feira, 27 de julho de 2004 - CARLOS HEITOR CONY- A Faísca* Em geral, e ao contrário do presidente Lula, não aprecio comparações do futebol com a vida nacional e com a vida particular de cada um de nós. Contudo a vitória do Brasil contra a Argentina, no último domingo, pode ser aproveitada como uma boa metáfora do nosso destino comum e pessoal.Como vimos, o Brasil jogou mal o tempo todo. Tecnicamente, merecia ter perdido, parecia até mesmo um time desfibrado, bem distante do Brasil oficial e pentacampeão, merecedor do nome mais ou menos pejorativo de Brasil do B, ou seja, um Brasil de reservas.No entanto, nos minutos finais, tanto no primeiro como no segundo tempo, uma faísca eletrizou os nossos jogadores, que, de pangarés esfolados, transformaram-se em puros-sangues de raça e de fibra. O gol do empate final foi realmente uma centelha, parece que uns cinco ou seis jogadores nossos se embolaram com a defesa argentina e saiu o gol, límpido, classudo, apesar da confusão, que geralmente enfeia qualquer jogada.E vieram os pênaltis. Não gosto de decisão por pênaltis, parece roleta-russa, nem sempre faz justiça ao melhor. Os dois primeiros pênaltis perdidos pelos argentinos -e é aqui que eu queria chegar- revelaram o desconcerto, o "como é que pode?" que sempre provocamos quando conseguimos sair do atoleiro e damos aquele espetáculo que o Ary Barroso colocou em sua aquarela: "O Brasil verde que dá para o mundo o que admirar".São momentos raros, admito, mas consoladores. Temos tudo para dar certo, não apenas no futebol mas na vida em geral. O que precisamos, na verdade, é desses instantes mágicos, os "punti luminosi" de que falava Ezra Pound sobre a poesia.Em linhas gerais, o time presidido por Lula continua jogando mal. Pessoalmente, torço para que, num momento de confusão, brilhe uma faísca que nos ilumine e consagre.

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